Faustino Antunes

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

TÍTERES



Nascemos pra consumir
E pra sermos consumidos
Vivemos condicionados,
A não pensar.

O sistema nos dirige
E nos dita o que fazer
Aceitamos esse jugo,
Sem questionar.

Perdemos nossas vontades
Pra essa força prepotente
Que nos suga a energia,
No dia a dia.

Somos gado obediente
Neste pampa universal
A pastar e a ruminar,
Sem reclamar.

Mugimos e concordamos
Na fila do matadouro,
Barganhamos nossas vidas
Sem pechinchar.

Desde o berço até a cova
Que dóceis marionetes!
A corda que nos maneja,
É curta e grossa.


Faustino


No dia 30 de novembro de 1935, o mundo deu adeus a um dos seus maiores poetas, Fernando Pessoa. Depois de 75 anos, sua obra permanece atual. Homenagem do blog a esse grande escritor que nos ensina o que é ser imortal.




Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver

Apesar de todos os desafios,

Incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas

E se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si,

Mas ser capaz de encontrar um oásis

No recôndito da sua alma.



É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “não”.

É ter segurança para receber uma crítica,

Mesmo que injusta.



Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou

Construir um castelo ...

Fernando Pessoa

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

TIC-TAC



Tic-tac faz o cuco indolente
Lembrando-me que estou vivo
E que o tempo passa. E não volta
Nunca volta, e só dá voltas.

E se brilha o sol no horizonte
Ou uma chuva fininha me visita
Ele corre a toda brida,
Querendo fugir de mim

Se, porém o tempo fecha.
E a tormenta me faz pequenino
Esse insensível peregrino
Arrasta-se feito uma lesma

E no seu infindável tic-tac
Esse patrão me vigia
Contando os meus passos
Controlando meus espaços

Um dia ainda quebro esses doze olhos
Mesmo sabendo que vou ficar perdido
Que vou caminhar sem rumo pela vida
E que perderei até a minha identidade

Não importa! Sem regras, é o meu grito.
Vá controlar esses escravos enrustidos!
Porque eu me recuso a dar ouvidos
A esse infindável barulhinho maldito!


Faustino

DESGOVERNADO

O PILOTO SUMIU !!


Valha-nos Deus!
O piloto sumiu!
Estamos perdidos,
Nesta nave descontrolada!
E ninguém sabe de nada!

Estamos sem rumo e direção
Indo não sabe para onde
Sem saber se chegaremos
Sem saber em que estado
Ou em que costado

E se isto explodir
O que faremos?
Se não morremos
Seremos sobreviventes
Talvez até sem dentes

Sem piloto experiente
Este bonde vai a esmo
Sem controle e direção.
Pode ser, pode não ser.
E pode até deixar de ser

E o que vamos fazer,
A não se rezar
Pra um milagre acontecer
E alguém aparecer
Pra nos salvar

Faustino

AS TAMANCAS DA RAINHA


QUINTO DOS INFERNOS


Caio fora, e é agora,
Deste quinto dos infernos
Desta terra maldita
Nem o pó quero levar
Agarrado nas tamancas

Que é que eu quero c’as favelas
C’o esta horda de remelas
Com este povinho futrica
Que cultiva tiririca
No melhor das suas terras

Porque é que eu fui aqui
Amarrar o meu jumento
Neste sitio purulento
Onde uma vida humana
Não vale meia pataca

Onde as aves de rapina
São tratadas a pão de ló,
E as pombas essas coitadas
Dos seus ninhos são chutadas
Sem piedade e sem dó

Nesta terra sem justiça
Onde a lei não vale nada
É o reino da marmelada
E a sentença do mais forte
Vale por pena de morte

Vou voltar pra minha terra
(lá sou amiga do rei)
Lá povo não mete o bedelho
E quando lá morre o monarca
Coroamos o fedelho

Faustino

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ENTREGA

Esquece a metafísica do pentagrama,
Que te envolve numa sintonia mágica
E te apresenta uma realidade ilógica,
E te aprisiona num anel simbólico.


Deixe-se enlevar pela contemplação
E pela paz que transcende teus sentidos
Deixe a suave e envolvente musica celeste
Penetrar teus poros e te dominar num todo


Sinta num enlevo, o carinho do teu Criador.
Que te envolve inteiro num olhar apaixonado
Declarando o seu incondicional cuidado
Numa infindável declaração de amor!


Se entregue, acalma o teu ego irrequieto.
Não ofereças resistência, acolhe esse carinho.
Descansa simplesmente e confia
Que um universo inteiro trabalha em teu favor!

Faustino

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

EGO

FERA


Carrego em mim uma fera insaciável,
Que me devora, me consome, me domina.
A quem eu alimento dia e noite, eternamente.
E nunca está contente.

Vive em mim, está em mim, mas não sou eu,
E desde o meu primeiro choro,
Quando a luz aconteceu,
Deu-me o braço e nos fundimos
E nunca mais nos separamos.

Batemos-nos como dois gladiadores
Travamos batalhas mortais
Pra ver quem pode mais
E quase sempre posso menos

Esse meu pedaço carente e sedutor
Tão pequenino que se faz gigante
Que chora, se escabela e esperneia
Faz ouvidos moucos à razão.
E vive eternamente insatisfeito

Eu o observo, e geralmente o satisfaço.
Obedeço e dou-lhe sempre o que deseja.
Alimentando-o com meus pensamentos
Para satisfazer essa criança sem limites.

E assim eu vivo, com meu ego a tiracolo,
Por ele transito entre o passado e o futuro
Fugindo do agora, do hoje, do meu “carp diem”.
Servindo esse pilantra que me suga,
Se confundindo com minha própria existência.

Faustino

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

É O FIM


C’EST FINI


Descartem vossas mortalhas dilaceradas
Zumbis de plantão.
Não há mais a quem assustar

A realidade mudou. O sonho acabou
A ultima mulher sucumbiu á ultima pedrada
E a turba se esfacelou na areia

O vento parou e com ele, os moinhos.
A água parou e com ela os, monjolos.
O sangue parou e com ele, a vida.

Depois da letra, o ponto.
Depois do grito, o silencio.
Depois do fim, a lagrima.

Não há mais ovos á eclodir
Nem mais sementes á medrar
Nem há vida a pulsar

Somente a fênix teimosa se levanta
E sacode as cinzas
E alça vôo! Está sozinha!


Faustino

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PENSAMENTOS




CALA


Cala, cala tua baioneta.
E te cala
Porque na calada o inimigo acorda
Sem pudores, sem medo.
E ataca

Cala-te
Para ouvir a voz que não é dita
Cala-te
Àquele que te ataca
E que te mata

Não te fies no escudo enferrujado
Que te defende
Sente a tenaz tão insistente
Que te prende
E te repreende

Porque calado o teu silencio grita
E te condena
Te acusa, te fere, te difama.
Te corrompe e te agride
E sem ter pena!

Se pelos flancos o inimigo ataca
Não o enfrentes
Pra que entendas,
Pra que compreendas que essa fera nasce
Das tuas entranhas!


Faustino

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA


Há cento e vinte e um anos atrás, éramos súditos do imperador D. Pedro II, o único monarca das Américas. O nosso governante era um homem muito respeitado e admirado pelas grandes personalidades internacionais da época. Era conhecido como “Príncipe Filosofo” e “Homem de Ciência”, sendo admirado por grandes pensadores, como Darwin e Nietzsche. D. Pedro não aceitava as diferenças raciais, e era favorável á libertação dos escravos, tolerando a escravidão somente para não descontentar as oligarquias agrárias. Mantinha relações de amizade com os grandes expoentes da cultura internacional, como filósofos, cientistas e poetas. Procurava estar presente em todos os eventos culturais, tendo viajado para varias partes do mundo.
Mas aqui no Brasil, a monarquia estava em crise. Finda a guerra do Paraguai, a divida externa havia crescido muito. Abolida a escravidão, os antigos proprietários de escravos exigiam indenizações por terem perdido o seu capital humano. Com o aumento da classe media, havia um grande desejo do povo pela liberdade e pela participação na política e nas tomadas das decisões importantes para os rumos do país. Havia ainda a questão religiosa, com vários bispos da Igreja não aceitando as decisões do imperador, principalmente com relação á maçonaria.
No dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, antiga capital do Império, o Marechal Deodoro da Fonseca proclama a republica. Um grande passo para a democracia que passou quase despercebido pela população em geral, como salientou o ministro Aristides Lobo – “A proclamação ocorreu ás vistas de um povo que assistiu a tudo de forma bestializada”.
E depois disto, da proclamação até a chegada de Getulio Vargas, o Brasil foi loteado entre mineiros e paulistas no que foi conhecido como “Republica café com leite”. Mas aí já é outra historia.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

GRUPO ESCOLAR DE MARIALVA



Nas minhas freqüentes divagações, fico ás vezes a recordar de como eram as coisas e como era a minha cidade há quarenta anos atrás. Vejo-me molequinho ainda, magrelinho, arrastando uma mochila feita de brim pela minha mãe, abotoada na frente com um grande botão (morria de vergonha dela – queria ter uma de couro como os alunos mais abastados). A estrada, que naquela época me parecia sem fim, era normalmente coberta de poeira ou de barro de vez em quando. Saía do sitio no quilometro um da estrada Marialva, contornava um cafezal que ficava perto da estação ferroviária, pois o pontilhão era de madeira e estava quebrado e ia bater os costados lá no Grupo Escolar.
Na escola, a primeira a sair da sacola era a cartilha Caminho Suave, onde um universo de figuras e letras me ensinavam a ler e escrever, com a orientação da professora Cleonice Colhado. Abelha, zabumba, Nhá Maria, igreja, unha, dado e cachorro ca co cu Os cadernos, geralmente não muito limpos por conta das tarefas feitas no sitio com as mãos mal lavadas serviam para repetir as lições da professora. E pelos anos seguintes, muitos cadernos de caligrafia foram consumidos por conta da letra feia e incompreensível. Caneta nem pensar e os lápis de cor me fascinavam pela sua beleza.
O bom mesmo eram as festas na escola. No dia das crianças, muitos doces e geralmente as professoras se desdobravam em artistas e palhaços para divertir a criançada. Nas aulas de regência, as novas professoras passavam alguns dias substituindo a titular, enchendo nossos cadernos de carimbos e figurinhas coloridas e na ultima aula se despediam nos fazendo felizes com pequenas lembrancinhas.
As series, que chamávamos de anos, eram diferenciadas pela cor da capa dos cadernos. Se não me engano, a capa do primeiro ano era amarela, do segundo verde, do terceiro azul e do quarto vermelha.
Um fato que marcou: um dia o Robertinho “louco” entrou correndo na escola, querendo “pegar” alguns moleques que mexeram com ele e pôs todo mundo em polvorosa. Fui parar no final do corredor, escondido no meio de um bando de outros alunos tão medrosos quanto eu.
Figuras de quem eu não me esquecerei: Seu Sinhô, zelador da escola e inspetor de alunos. Dona Perolina, com cara de braba sempre cuidando da disciplina da molecada. Dona Mariazinha, enérgica e doce ao mesmo tempo. Dona Terezinha, que vendia doces no portão, fazendo a delicia dos nossos olhos (geralmente só dos olhos, porque dinheiro nunca tinha), um dia inventou de rechear o manjar com a calda do pudim e fez o maior sucesso inventando o que todos chamavam de “matado”. Pirulitos amarelos e vermelhos, paçoquinhas, doces de abóbora em forma de coração e as inesquecíveis caixinhas da sorte com pequenas bijuterias dentro.
E os brinquedos! Tinha época dos piões, dos bilboquês, das pipas, das figurinhas onde os mais espertos rapelavam os menos espertos no “bafo”. Na hora do recreio, era uma festa, com o povo se agrupando ao redor das brincadeiras, numa mistura de gritos e risadas, até a dona Mariazinha chacoalhar ruidosamente o sino, nos chamando de novo para as nossas obrigações em sala.
Terror era quando havia vacina! Prendiam-nos todos dentro da sala de aula, com uma professora cuidando da porta e dá-lhe furo no braço! Escapei duas vezes, uma pulando um minúsculo vitrozinho quase me arrebentando todo do lado de fora, e outra fazendo um furinho no braço com o lápis e com a cara de maior sofredor do mundo mostrar para a professora que já havia tomado a maldita vacina.
O grande medo era do gabinete! Comportávamos-nos mediante ameaças de sermos levados para o famigerado lugar! Ninguém sabia o que havia lá, mas circulava que era um lugar horroroso, com todos os tipos de castigos possíveis a espera do aluno bagunceiro e desobediente. Eu particularmente morria de medo de umas cabeças sem corpo, modelos de tipos humanos, onde num deles se lia “caucasiano”.
As tarefas de casa eu quase nunca fazia, quer dizer, não fazia em casa, porque me obrigavam a fazê-las na sala de aula, numa carteira colocada estrategicamente na frente de todos. Palmatória não havia mais, graças a Deus, mas as unhas compridas da Zuleide torcendo-me as orelhas é cena que eu morro mas não esqueço!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

TÁ CERTO !!

"O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro".



Frase de Apparicio Torelli, Barão de Itararé.