FICHA LIMPA/FICHA SUJA – LARANJAS ABACAXIS E PEPINOS
Uma verdade é inquestionável: o brasileiro não acredita mais
nos seus políticos. E ultimamente o que assistimos pela televisão parece
comprovar o que a maioria pensa e comenta nas rodinhas de discussões: chegamos
a um ponto tão crítico que não há mais o que possa ser feito para mudar essa
realidade. Tornamos-nos niilistas com relação á política e acabou-se!
Tempos atrás, a Igreja Católica e diversos setores da
sociedade se mobilizaram para forçar a criação de uma lei que impedisse a
candidatura de pessoas com problemas com a justiça. Depois de muita conversa e
muita discussão, finalmente foi aprovada a lei conhecida como a lei da
ficha-limpa. Era uma maneira de fazer o eleitor votar em pessoas que, pelo menos
até então, não tivessem pendências comprovadas que comprometessem o seu futuro
como representantes do povo nos cargos políticos. Infelizmente, foi preciso uma
lei ser promulgada para que nós, que nos consideramos o povo mais esperto do
mundo, tivéssemos juízo na hora de tomar a seria decisão de escolher entre os
bons e os maus. Falta em nós, eleitores brasileiros, uma pequena peça que possa
nos fazer diferenciar o que é bom do que é ruim!
Mas, finalmente a lei aí está! E o que aconteceu com os
políticos enquadrados pela novidade? Você já viu algum presidiário ser culpado
por alguma coisa? Entreviste toda a população carcerária do Brasil e conclua
que noventa por cento deles são inocentes! Estão ali por erro judiciário ou por
algum tipo de perseguição. Culpados, nunca!
Os ficha-suja espernearam. A justiça não podia assim, de uma
hora para outra, tirar as mordomias e vantagens que os cargos proporcionavam.
Como sustentar a família, os cabos eleitorais, as amantes e tudo mais sem a
mamata que o povo, eleição após eleição, lhes proporcionava, á custa de mimos,
afagos e presentes? Como exercer o privilégio de manipular a ignorância do
povo? A regalia de possuir nas mãos o poder de fazer um pouco para os vassalos
e muito para o próprio bolso?
Idéias mirabolantes tomaram conta da mente desses déspotas.
Como driblar a lei? Sim, porque existem brechas em todas as leis e de uma
maneira ou de outra é possível contornar o obstáculo! Como continuar com a
operação de surrupiar o erário e ludibriar o povo, sem esfolar a lei? A reposta
veio da horta: laranjas.
Essas deliciosas e saudáveis frutas emprestaram o nome á uma
das mais condenáveis, censuráveis e reprováveis práticas: a substituição do
sujo pelo mais ou menos lavado, de maneira que a sujeira fosse empurrada goela abaixo
dos cidadãos menos alertas. No fim, se o povo se deixa levar pela lábia, o
ficha suja comanda do jeito que quer e sabe e o laranja entra com a assinatura.
E o povo fica com os pepinos e abacaxis!
Poderia terminar dizendo que isto é Brasil e brasileiro não
tem jeito. Mas não é bem assim! Uma pequena luz começa a brilhar na escuridão
da ignorância e podemos acreditar que futuramente as pessoas possam sentir
prazer em participar da política. Da verdadeira política que pensa no bem
coletivo e não em vantagens pessoais. Não sou pessimista e acredito que as próximas
gerações encontrarão um cenário menos negativo.
Afinal, mais de um milhão de pessoas imprimiram sua
esperança no abaixo-assinado que ajudou a criar a lei. É muita força unida e dá
pra acreditar em mudanças!
Faustino Ferreira Antunes