Faustino Antunes

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


CAVALEIRO


Na escuridão sem fim da noite
O cavaleiro macabro, solitário avança.
Bandoleiro de mil vidas
Mensageiro de mil mortes
Uma sombra que se confunde
E se funde com as outras sombras.

Passos lentos, gestos mudos.
Até a natureza, hirta treme,
Ante ao andarilho tenebroso.
Espada impassível de aço frio
Rastro rubro de sangue quente
Prelúdio de morte eminente.

Levando a noite na garupa
Empurrando a aurora no açoite.
Nem a lua faz brilhar a sua prata
Nem o remanso escoa seu cristal.
E até as aves noturnas silenciam,
Ante tão medonho vulto!

E no alvo coxim de branco linho,
Grossas gotas lívidas escorrem,
Do corpo tremulo e agitado.
E a cada passo do rude cavaleiro,
Um grito de horror é sufocado,
No ardor do terrivel pesadelo.

Mas, enfim, raia a doce alvorada.
Faz-se finalmente a desejada paz
Como mágica, as trevas se dissipam.
Vai-se a agonia, vai-se a triste fantasia.
E um calmo e tranqüilo abrir de olhos,
Destrói num golpe, o poderoso cavaleiro.

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