Faustino Antunes

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

RUBEN ALVES

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

quinta-feira, 31 de março de 2011


TEMPO... TEMPO


Nossas mãos
Magrinhas e fraquinhas,
Unidas como nunca
A formar um só corpo

Nossos olhos
Pequeninos e cansados
Janelas d'alma
A enxergar a memória.

E o sol se pondo
Lentamente
Ultimas nuances no horizonte
Mais uma vez
A ultima vez

Nossas vidas
Há tanto tempo unidas
E unidas estarão eternamente
Porque a eternidade não separa
Duas vidas

segunda-feira, 28 de março de 2011


SONINHO FUJÃO



Vai
Soninho fujão
Vai pra bem longe
Vai despertar alguém lá no Japão


Lá do outro lado do mundo
Alguém precisa acordar
Lavar os olhinhos
Vestir a mochila
E ir pra escola.


Que venha o soninho bom,
Aqui é hora de descansar
Soltar o brinquedo devagarinho.
Fechar os olhinhos
E sorrir para as fadas!


Uma melodia suave enche o ar
Só falta o fujãozinho chegar
Os anjos já estão todos aqui
Pra desenhar a noite
Para colorir os sonhos!

BOM DIA


Bom dia. Me diz um bem-te-vi feliz,
Fazendo arte na minha janela
Dizendo-me que a chuva da manhã
Deixou um céu limpinho lá fora

Bom dia. É o sabiá agora.
Que me desafia a abrir os olhos
Para um sol resplandecente
Que também me acolhe alegre

E a luz que indiscreta no meu quarto entra
Garante-me que a escuridão se foi
E o silencio lentamente se transforma,
Num ruidoso e estridente chilrear

E toda a natureza, num mágico momento,
Á minha frente, desfila seu frescor.
Como se fosse só minha neste instante
E só para mim, trabalhasse o Criador!

quarta-feira, 23 de março de 2011

UM POUCO MAIS DE LUZ


Não feche os olhos. É dia claro!
E a noite dos sonhos inda tarda
Não desperdice o resto de luz
Que ainda excita o teu olhar

Mesmo que ames de verdade as estrelas
E anseies pelo anoitecer
Mesmo que a prata do luar te acene
E te seduza a ilusão do sono

Ainda que a fantasia persista no convite
E a alegoria te doure a ilusão de ir
E achares que partir é um caminho doce
E a viagem insista em te acenar

Ouça, que ainda cantam as aves
E o vento agita ainda teus cabelos
A chuva molha teus caminhos
E há um rastro de flores pela estrada

Espere. É tão sublime esperar!
E no tempo eterno a pressa não existe
Portanto, aguarde um bocadinho aqui,
E desfrute antes, de um pouco mais de sol.

segunda-feira, 14 de março de 2011


EVOLUÇÃO


Eu era pó. Era seco e sem vida,
Quando a luz aconteceu,
Numa amalgama de elementos
Num cadinho de ingredientes.
Um pouco terra, um pouco água,
Um pouco ar, um pouco fogo
E muito amor
Tudo posto a cozinhar
No calorzinho do tempo
Muito tempo!
E sob o olhar apaixonado,
Paciente e complacente,
As metamorfoses!
As transformações!
E em sete milhões de anos
Ou bilhões, ou trilhões, não importa,
Estava pronto,
O protótipo, o modelo,
De um filho,
Imagem e semelhança!
PANACEIA CAIPIRA


Dona Gertrudes era uma velhinha simpática que conheci a alguns anos atrás e espero que ainda seja. Morava pertinho da cidade e todo o domingo podia ser vista na estrada, voltando da missa, arrastando as chinelas na poeira do chão. Muito religiosa e muito honesta, era um exemplo de pessoa e tinha sempre uma palavra de conforto para todos os que encontrava. No sitio estava sempre á cata de plantas medicinais, o que depois de Deus, era o que curava os seus males. Um dia encontrei-a as voltas com uma planta nas mãos. Ao perguntar-lhe a utilidade da mesma, respondeu-me com a língua enrolada:
- É patuquiá
Achando que ela não havia entendido a minha duvida e pensando que ela me dizia o nome da erva, perguntei-lhe de novo o que é que a planta curava. A resposta foi a mesma:
- É patuquiá
Só depois de algum tempo entendi que a Dona Gertrudes usava o vocabulário mineirês e estava me dizendo que o remédio servia “para tudo o que há”.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011


TER E QUERER

Quando eu nada tinha, tudo eu queria.
E quanto mais tinha, mais queria ter.
E pra preservar aquilo que eu tinha,
Mais eu cuidava para nada perder

E quanto mais a vida me dava
Mais meu desejo de ter aumentava
E muito mais tempo eu perdia
Para cuidar do que acumulava

E sem saber que eu já tinha tudo
Eu sentia sempre a falta de algo
E quando chegava onde almejava
Já não era mais aquilo que eu sonhava

Agora entendo que tudo é vaidade
E que quanto mais tive, mais fui infeliz.
Que quando nada tinha eu nada temia
E sem sobressaltos, alegre eu vivia.

Percebo agora que ter não é tudo
Que perdi meu tempo a amealhar
Pois o que juntamos ao longo da vida
Não vale mais nada quando ela findar.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A MÃO E A PEDRA


Se és juiz, e não queres manchar a toga.
E á tua frente jaz, a pecadora inerte.
E o seu olhar te fita e também te fere
E em silencio, te pede clemência.

E se na mão sentires o peso da pedra
E se teu coração bater em descompasso
E tua razão te diz pra não erguer o braço
Contra o olhar que implora e também te acusa.

E se lutas feito animal ferido
E no teu âmago sentes que o coração vacila
E a consciência luta para não ser injusta
E a balança pende para o lado oposto

Se justiceiras pedras caem ao teu lado,
Pois julgadores no mundo há de sobra.
Não faça com elas um escudo falso
Como quem labuta na seara alheia

E se te negas a dar o teu veredicto.
Porque julgar, convenha, a ti não compete.
E com o tempo, a vida faz seu julgamento.
Porque que carregas n’alma um maior pecado.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


CAVALEIRO


Na escuridão sem fim da noite
O cavaleiro macabro, solitário avança.
Bandoleiro de mil vidas
Mensageiro de mil mortes
Uma sombra que se confunde
E se funde com as outras sombras.

Passos lentos, gestos mudos.
Até a natureza, hirta treme,
Ante ao andarilho tenebroso.
Espada impassível de aço frio
Rastro rubro de sangue quente
Prelúdio de morte eminente.

Levando a noite na garupa
Empurrando a aurora no açoite.
Nem a lua faz brilhar a sua prata
Nem o remanso escoa seu cristal.
E até as aves noturnas silenciam,
Ante tão medonho vulto!

E no alvo coxim de branco linho,
Grossas gotas lívidas escorrem,
Do corpo tremulo e agitado.
E a cada passo do rude cavaleiro,
Um grito de horror é sufocado,
No ardor do terrivel pesadelo.

Mas, enfim, raia a doce alvorada.
Faz-se finalmente a desejada paz
Como mágica, as trevas se dissipam.
Vai-se a agonia, vai-se a triste fantasia.
E um calmo e tranqüilo abrir de olhos,
Destrói num golpe, o poderoso cavaleiro.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011


PRIMAVERA

Todos os anos, a primavera chega,
Depois do frio do inverno
Com suas flores e seus perfumes
E o calorzinho gostoso

A natureza explode em mil cores
E a vida renasce pra todo lado
Num mundo que parecia sem vida
Um milagre acontece

E é por isso que a esperança,
Ainda existe, pois com certeza,
Quando o frio da alma findar,
A alegria volta com força

As sombras são como nuvens
Encobrem o sol, mas vão embora.
E atrás de toda escuridão,
Há sempre uma promessa de luz

E os sinais deixados pelas lagrimas
Serão apagados pelos sorrisos
E um vento de ternura soprará
Fazendo renascer a esperança.

Brotará um grito de alegria
E um desejo imenso de ser feliz
E a sabedoria repetirá serena,
Tudo passa! Sempre passa!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011


NHÁ SERVINA


Nhá Servina, preta véia,
Do tempo da escravidão.
Do tempo que liberdade
Era sonho, era ilusão.

Era um tempo sem limites,
De injustiças, de dores,
De aflições, desigualdades,
Uma praça de horrores!

Os grandes, os poderosos,
Dominavam os demais
Impondo suas vontades
Ignorando os seus ais.

O sonho de Nhá Servina
É um mundo de igualdade
Onde o sonho que se sonha
Possa ser realidade.

Onde não haja injustiças,
E todos sejam iguais.
Onde não se trata gente
Como meros animais.

Esse mundo já existe
Mas é só no pensamento
Hoje ainda a escravidão
É o nosso maior tormento.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


ZE PASSARINHO


Lá pros cafundós da estrada Caraná vivia o Zé Passarinho, figura pitoresca que colecionava todos os tipos de animais possíveis de se ter por perto de casa. E por falar em casa, a do Zé também tinha uma particularidade única: todo mundo na roça cerca a casa para os animais não entrarem, pois o Zé cercava a sua para os animais não saírem! E imaginem uma casa cheia de galinhas, patos, marrecos, gansos, porcos, coelhos e tudo mais! Dentro, a fertilidade era maior que fora!
E como não poderia deixar de ser, o Zé era um exímio negociador. De animais, é claro! Por onde passava, era um escambo só! Sabia quantas galinhas valiam um pato, quantos patos valiam um peru e outras manhas. Os centavos das trocas eram os ovos e serviam para arredondar a conta ou pra ajudar a concretizar um negocio difícil. Se o interlocutor se mostrava reticente, dá-lhe ovos!
E pra todo lugar que ia, sempre levava algum bicho para um eventual negocio. Sempre se podia encontrá-lo pelas estradas, com um saco ás costas e um ou vários animais se contorcendo dentro. Não se podem perder oportunidades!
Um dia, antes de pegar o ônibus que ia de Cambuí para Marialva, o Zé se encantou com um belo cacho de bananas dando sopa na beira da estrada. Botou o cacho no fundo do saco e por cima acomodou o ganso que havia trazido de casa. Acontece que alguns passageiros gozadores desconfiaram do tamanho desproporcional do bicho e pediram para ver. O Zé puxou meio palmo de pescoço do ganso de dentro do saco e apresentou aos inquisidores. Estes ainda não satisfeitos pediram para ver o animal todo, ao que o Zé respondeu irritado:
- Tem disso não. Viu a cabeça, viu tudo!

SEGURA MINHA MÃO


Segura a minha mão,
Porque eu tenho medo, muito medo.
E não é do homem do saco
E nem do bicho-papão.

Não é o medo da noite
Das sombras, da escuridão.
Nem das bruxas voadoras
Ou da seringa da injeção

Não é medo do ladrão
Nem da cuca, que vem pegar.
Nem de fantasma nem de vampiro
Nem mesmo de assombração

Não é medo do temporal
Nem da chuva ou do trovão
Também não é medo da morte
E do monstro também não

É medo, somente medo.
De encontrar a solidão
Medo de não poder mais
Segurar a tua mão.


MOLEQUES VS FRUTAS

Moleques de verdade,que moravam no sitio, viviam encarrapitados nas arvores á procura de frutas. As molecas também não ficavam para traz! As mangas eram um caso á parte e a partir da florada, todo mundo acompanhava a evolução das frutinhas, esperando ansiosos que elas crescessem e amadurassem. As primeiras que coloriam e amoleciam eram disputadas a tapa e o dono era o que primeiro via a fruta nem que fosse num lugar impossível de ser colhida. Viu, é dono e acabou-se!
Se á noite chovia, cedinho era hora de fazer a colheita dos frutos derrubados pelo vento. No final da safra a molecada era pura pereba, que sangue já nem tinha mais no corpo: era puro caldo de manga que circulava pelas veias e artérias. Pisar num exemplar podre com uma abelha por baixo era sinal de pé inchado e muito choro. Faca não se usava para chupar manga: era batida no joelho ou numa pedra até ficar molinha, fazer um furinho na extremidade oposta ao pedúnculo e chupar o caldo grosso até esvaziar. Depois era chupar o caroço até ficar branco como as barbas do Papai Noel.
Jabuticaba era um perigo! O pé, com seu tronco preto de tanta fruta era coisa linda de se ver e dava água na boca! A molecada entrava de sola e esquecia da vida! De vez em quando tinha que engolir uma casca, senão entupia mesmo!
Tangerina era moeda de troca na escola. Era costume dizer que o povo da cidade ia ao sitio para chupar tangerina e o povo do sitio ia à cidade para chupar sorvete. Eram enormes, viçosas como não se vê mais. Nos pés de laranja constantemente se achavam ninhos de sabiás.
Chupar cana era divertimento coletivo. Ia-se ao canavial e furava-se a casca com a pontinha da faca ou canivete. Se ela estalava era macia e doce. Juntava-se uma rodinha, contavam-se causos e piadas e dá-lhe chupar cana. No final era uma bagaceira só!
Encontrar melancia grande no meio da plantação de arroz era uma festa! Partida ao meio em cima de um toco, só o miolinho cor de sangue era consumido, porque havia fartura na roça e não precisava economizar.