Faustino Antunes

segunda-feira, 30 de abril de 2012

UMA FOTO POR DIA



MORINGA DE BARRO


Prá matar a sede na roça, nada como a água da moringa. Fresquinha, com gostinho de terra, a água recolhida na bica ou puxada do poço era uma delicia. No tempo que não havia garrafões térmicos, as moringas eram artigo de primeira necessidade. Hoje, só pra contar estórias.





UMA ESTRELA CADENTE

Caiu uma estrela!
Riscou o infinito num fogo morno
Desceu feito floco de neve
E caiu a meus pés
Rescendendo perfume de maracujá!

Surpreso com essa presença insólita
Porque essas criaturas etéreas
Estão sempre tão distantes
E são sempre tão inconstantes
Que, às vezes, penso que não existem

Mas já que chegou, já que veio
Já que teve a ousadia de cair
Amarrei-a com uma fita rubra
Daquelas de antigamente

E guardei-a na caixa de estrelas velhas
Para num futuro bem distante
Quando cair uma chuva bem fininha,
Fazer dela um diadema!

sábado, 28 de abril de 2012

UMA FOTO POR DIA





Dália, para mim a flor mais antiga do mundo. No pequeno jardim, perto de casa, minha mãe era uma eximia plantadora de flores, principalmente dálias. Até hoje o cheiro dessa flor me faz voltar no tempo e ainda me enfeitiça. É o perfume de uma época, gravado no coração de um menino

sexta-feira, 27 de abril de 2012

UMA FOTO POR DIA




Havia uma abóbora no meio do caminho!!

CAUSOS DE BARBEARIA


O Edson é uma daquelas pessoas com que você fica á vontade, não importa o momento ou o assunto. Pescador dos bons, mentiroso só de vez em quando, já tive a oportunidade de participar de algumas pescarias com ele e de desfrutar do seu infinito bom humor. Tem para contar, algumas estórias pitorescas, que ele garante que aconteceram com familiares seus.
Uma dessas estórias ele diz que aconteceu com seu pai. Cabeleireiro muito antigo em Marialva, desde o tempo em que eram chamados de barbeiros e que a afiadíssima navalha era o único instrumento para se fazer a barba do freguês.  Um dia, no salão do Dinho entrou um matuto que parecia ter vindo direto do interior de Minas Gerais. Calças pula-brejo, botina de sola de pneu, camisa xadrez e um velho chapéu de palha na cabeça. Meio sem jeito, cheio de vergonha, entrou parecendo estar sendo arrastado feito gado pra chincha.
-O sinhô corta cabelo igual no sitio? Claro que sim! O Dinho não ia perder o freguês. Os cortes antigamente eram quase todos iguais!
Dá-lhe tesoura por todos os lados da cabeça: tic... tic... tic... Serviço pronto, o Dinho tirou a toalha dos ombros do caipira, já ia dar o preço do serviço, quando o homem dispara:
- Agora o sinhô senta aí na cadeira!
Como assim? O barbeiro não entendeu patavina!
-O sinhô não disse que cortava cabelo igual no sitio? Pois no sitio é assim: um corta o cabelo do outro e o outro corta o cabelo do um!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

LOUVOR





AGAVE

Como palmas estendidas
Em direção ao céu
Num louvor quase agressivo

Pela água, pela luz
Chuva e sol, tanto carinho!
Pela mãe terra, acolhedora,

Estrelas no firmamento
Sereno na madrugada
E as visitas esporádicas
Das aves itinerantes

Uma natureza plena
Inteira ao meu dispor
Tudo isso me completa
E desperta meu louvor!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

MALLEUS MALEFICARUM


A BRUXA

Cadê a bruxa que estava aqui?
O gato comeu!
Que gato?
O gato da bruxa!

Como pode? Essa bruxa não era fraca não!
Sobreviveu ao Martelo das Feiticeiras
A inquisição do Santo Oficio
E deixou-se comer pelo gato?

Sobreviveu a pestes e pragas
Superou a fome medieval
Ao subjugo do macho dominante
E deixou-se comer pelo gato?

Numa noite de intenso temporal
Sapecou no lume santo, seus pentelhos
E agora se deixa consumir
Por um reles gato!

Escapou das trevas seculares
E á escuridão clerical
Enfrentou feras itinerantes
E...  Um gato?

Testemunhas viram numa noite de breu
O gato perfumado, numa bela carruagem
Levar a maga, num assanho sem igual
Para delir seu fogo eternal.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

COISAS ANTIGAS


FOGÃO Á LENHA

Peça imprescindível nas cozinhas rurais há quarenta anos. Era polivalente, pois alem de proporcionar uma alimentação deliciosa, sempre com um saborzinho de bacon, estourávamos pipocas nas suas cinzas, que a mãe chamava de “freiras”. Servia também para acalmar tempestades, pois ali queimávamos os ramos bentos abençoados no domingo de ramos. Nas suas bocas, a chaleira de ferro era presença constante para o café, o chá de arruda para os vermes e até mesmo para o banho de carretilha. Aos domingos não faltava o frango ao molho e de manhã o bolinho de chuchu com café preto. Ao redor, para aproveitar a fumaça abundante que enchia a casa de fuligem, as lingüiças caseiras se defumavam e ás vezes eram assadas no espeto. O registro, na chaminé de manilha, regulava o movimento do fogo. Nas manhãs frias era um ótimo aquecedor de ambiente.

Bom mesmo era acordar cedinho, antes de ir pra escola e sentir o cheirinho delicioso do café sendo preparado.

terça-feira, 17 de abril de 2012

GILBERTO FREIRE


“A luxuria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha a servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço na nova terra. O ambiente em que começou a vida brasileira foi quase uma intoxicação social. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia de Jesus precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregar aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho”

O texto acima é um excerto do livro de Gilberto Freire “Casa Grande & Senzala” onde o autor procura retratar o pensamento do brasileiro. Publicado no Rio de Janeiro em setembro de 1933, depois de inúmeras edições, esse livro ainda nos instiga a repensar o inicio da colonização do Brasil e qual o peso dessa colonização na formação do pensamento do povo brasileiro. É uma obra de fundamental importância e continua seduzindo pelas suas teorias emblemáticas.

Segundo Freire, a convivência entre a casa grande e a senzala foi grande e importante. Havia uma estreita ligação entre ambos e isso influenciou no surgimento de um povo com características próprias e únicas para formar o que somos hoje. Desde o primeiro contato com as índias, nos primeiros momentos, e depois com a convivência com as escravas, o apelo sexual dos portugueses foi muito forte.

Portugal sempre foi um país de características cosmopolitas, em conseqüência da sua localização estratégica. Situado num entroncamento de mares e continentes, o pequeno pais lusitano sempre recebeu e conviveu com pessoas do mundo todo. O português, teoricamente sempre foi um povo aberto ao relacionamento com povos estranhos e ao chegar ao Brasil foi logo fazendo amizades e espalhando as suas sementes no fértil terreno dos trópicos.

Mais tarde, com a escravidão, mais uma injeção de vitamina na libido lusitana. As férteis negras deixaram-se seduzir pelos sinhôs e com eles inventaram o ícone sargenteliano: as mulatas!

A realidade dos fatos é claro, ninguém conhece. Mas se formos escovar a historia á contrapelo, como nos sugere o alemão Walter Benjamin, descobriremos que essa harmonia é certamente exagerada. Dono da situação, o senhor com certeza não fazia questão de cortejar as escravas. Sua palavra era lei e para não sofrer castigos elas se entregavam sem resistência aos mais animalescos instintos. A isso se soma o fato da sinhá muitas vezes enciumada pela traição do marido, maltratar as suas mucamas.

Mas Gilberto Freire ainda é um fenômeno! Vale à pena conhecer as suas idéias, assim como as de Caio Prado Junior e Sergio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

GRANDES NAVEGAÇÕES

Sempre que estou numa praia, exerço a minha condição de historiador. Ponho-me a imaginar como seria chegar numa praia deserta, por volta de mil e quinhentos. Desembarcar de uma caravela, depois de meses enfrentando os perigos dos oceanos, a fome e todas as demais dificuldades da época. Depois do grito eufórico de “terra à vista”, com as primeiras gaivotas a visitar a embarcação, a deliciosa sensação de por os pés na areia fofa e logo mais sentir a terra firme depois de tanto tempo se equilibrando num chão instável.

Mar a perder de vista, palmeiras mil, areia branca e um céu pra lá de azul num dia sem nuvens. Se desse sorte (ou azar) poderia também encontrar alguns índios. Quiosques vendendo cerveja e casquinha de siri, nem pensar! Corpos esparramados na areia, se bronzeando, também não!

Era uma época de crendices e superstições. Ao findar a Idade Média, a religiosidade estava em alta e o sagrado se misturava ao profano numa confusão infinita de sentimentos e emoções. Não se sabia ao certo o que se encontraria em alto mar e muito menos em terra firme. Monstros das mais malucas formas povoavam a mentalidade das pessoas. Os satélites ainda não vasculhavam a superfície do planeta e surpresas eram esperadas para onde se ia.

Embrenhar-se nas matas era um ritual de sustos. Alem das águas límpidas e cristalinas dos riachos, das suculentas e apetitosas frutas, a terra era habitada por feras carnívoras e nativos nem sempre amigáveis.

Os europeus encontraram aqui muitas coisas boas e outras nem tanto. Trouxeram também algumas coisas boas, outras horríveis. Trouxeram mais “sifilização” que civilização! As embarcações tinham condições precárias de higiene e junto com as pessoas, desembarcavam também a gripe, a varíola, a sífilis, os piolhos etc.

Gilberto Freire tem algumas teorias sobre o que aconteceu quando os portugueses desembarcaram no Brasil e aqui encontraram as índias.

Índias com i minúsculo!

Essa historia eu conto depois...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

TEMPOS


Rastros de um passado que se foi. Histórias contadas á luz da lamparina a querosene que falam de pessoas, animais e assombrações. Tempos que se foram, mas que ainda permanecem na memória, embaçados e gastos pelo tempo. Imagens indeléveis que ainda teimam em continuar existindo porque deixaram marcas profundas. Pessoas queridas que viraram saudades. Outras que se transformaram e perderam a essência do que eram, parecendo também que já se foram!

quinta-feira, 5 de abril de 2012



Foto dos arquivos de Rodolfo de Polli


Em Marialva, temos uma pessoa que constantemente é noticia nos rádios, jornais e na televisão. É um fenômeno midiático o português sem camisa, que segundo ele a ultima vez que usou camisa foi quando faleceu a sua mãe. No mais dos dias, com frio ou com calor, não bota camisa nem por Santa Maria.

Pois bem, esse português é uma memória viva da cidade. Aqui chegou pequenino, com o pai, mãe e dois irmãos nos meados do século passado. Instalaram uma serraria na cidade que funcionou por pouco tempo e exploravam algumas propriedades rurais. Conhece quase todos na cidade e se lembra de fatos interessantes.

Conta que antigamente, onde hoje é a Rua Etore Soldan, havia um pequeno aeroporto, um campo de aviação com se falava na época. O dono do posto Esso, Alcides Martins de Oliveira tinha um irmão que possuía um pequeno avião e era nesse pequeno espaço que fazia as manobras com a aeronave. Aterrissava onde hoje é o campo de futebol municipal, descia pela Etore Soldan, atravessava a linha do trem e estacionava ao lado do posto.

Pois esse camarada era piloto de verdade, com brevê e tudo. Um dos poucos que possuía esse documento na época. E numa de suas viagens pelo interior de São Paulo, foi parado pela policia rodoviária por estar em excesso de velocidade com seu automóvel. O policial, meio irônico se dirigiu ao motorista: - Você está voando meu amigo, onde está sua documentação de piloto?

Muito calmamente ele tirou do bolso o seu brevê e apresentou á autoridade!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

HISTÓRIA DE PESCADOR ?

A PESCARIA DO WILSOM

O Wilson conta que certa vez foi pescar no Paranazão, com amigos. Para a casa da ilha levaram todas as tralhas de barco e se acomodaram do jeito que deu. Como não havia muitos quartos na casa, o Wilson foi escalado para ficar no antigo quarto do caseiro. Um detalhe: o caseiro havia falecido há pouco tempo e os amigos não pouparam recomendações e comentários para que a noite dele fosse cheia de sustos. O Wilson levou tudo na esportiva e aceitou de bom humor as brincadeiras dos amigos. Depois de muitas mentiras e latinhas amassadas resolveram descansar para o dia seguinte que prometia ser de muito “trabalho”.

Acordaram cedo, antes do meio dia. Durante a tradicional lavação de olhos e escovação de dentes por alguns mais higiênicos, o Wilson foi inquirido com relação á sua noite na ilha. Discretamente disse que a noite havia sido ótima, a não ser pela visita inesperada na madrugada, do rapaz que insistia em explicar os detalhes da casa e da ilha. Foi um silencio só! Cada um foi cuidar das suas coisas, preparar as tralhas e se ajeitar para a pesca. Ninguém comentou mais nada!

Depois de pescar um pouco, hora de descansar e repor as energias. Como os mantimentos haviam acabado (cerveja) o Danilo havia ido até o porto e para surpresa geral, voltou com o barco cheio de gente! Ele explica: ao chegar ao porto, quem ele encontra? A viúva do caseiro, com vários familiares tristes ainda com a recente perda. Todo eufórico relata para a família o ocorrido na ilha, de como o Wilson havia recebido a visita do morto na ultima madrugada! Claro que quiseram saber mais noticias sobre o falecido e tinha que conversar com a única pessoa que havia mantido contatos com ele.

O Wilson gelou! Havia inventado aquilo para tirar uma com os colegas e agora a coisa tomava dimensões astronômicas!

Não foi mole não! Explicar pra família que tudo não passara de uma brincadeira não foi fácil, mas era necessário. No fim, tudo se resolveu e o falecido pode descansar sossegado.

Parece mentira de pescador, mas o Wilson jura de pés juntos que o incidente realmente aconteceu!

terça-feira, 3 de abril de 2012


PRESENTE - PASSADO

Muitos dizem que as coisas melhoraram em comparação há algumas décadas atrás. Alguns dizem que pioraram e que antigamente é que era bom.

Antes tudo era difícil e trabalhoso. O esforço era mais físico do que mental. As distancias eram realmente grandes e os meios de transportes precários. Hoje, aeronaves de ultima geração percorrem todo o espaço do planeta em poucas horas. A internet coloca o universo inteiro dentro de nossas casas. Pesquisas e mais pesquisas são feitas para diminuir os nossos esforços físicos. Antes o ar era puro e saudável. Hoje é poluído e cancerígeno! Antes os rios eram límpidos e tinham peixes. Hoje são poluídos e tem mais lixo do que água! Antes, a impressão era de que o tempo passava. Hoje nos parece que voa!

Somos hoje mais felizes? Parece-me que não! A modernidade que veio para nos dar mais conforto falhou num detalhe: esqueceu de nos dar a consciência de que conforto significa ter mais tempo para ser feliz. Hoje, transformamos o tempo no nosso grande inimigo e corremos desembestados em busca de algo que não sabemos muito bem o que é, mas que perseguimos com todas as nossas forças. Vivemos tão deprimidos com o passado e ansiosos com o futuro que o dia de hoje passa despercebido.

Fugimos da nossa realidade nos concentrando na realidade dos outros, ou na falsa realidade, que chamamos de virtual. Perdemos a virtude de nos espantar com o desconhecido, porque tudo nos parece normal ou natural. Perdendo nossos valores essenciais, sentimos que um vazio enorme nos absorve e nos anula.

Valeu à pena trocar a paz e a tranqüilidade de uma vida simples pelas comodidades modernas? Não se sabe!

Teria jeito de ser diferente? Improvável!

O que sabemos é que a coisa está como está e só nos resta assimilar. Tentar aliar a tecnologia à felicidade. Usufruir da modernidade entendendo que ela é um meio e não um fim.

E se sobrar um tempinho nessa correria doida, sair pelos campos, chupar fruta no pé, respirar profundamente o restinho de ar puro que nos resta!

Como antigamente!

segunda-feira, 2 de abril de 2012


RECORDAÇÕES ESPARSAS

Da infância, somente algumas lembranças ainda sobram, embaralhadas e distantes. De sair, as vezes com meu pai, a pé ou de carroça e atravessar a cidade até a fabrica de guaraná do “Cabeça Branca” apelido de João Gomes Navarro. Ali degustava a bebida mais gostosa do mundo, recém fabricada, ainda quentinha depois de passar pela inspeção de qualidade: os olhos do Serginho, treinados para encontrar impurezas na bebida.

Lembro-me também da Casa Ferreira, um secos e molhados de amigos portugueses onde o José Português servia o balcão, ao mesmo tempo em que vendia ferramentas que se amontoavam nos fundos. Futuramente se transformou na Casa Benites, mas as funções não se alteraram e lá nos fundos sempre havia uma roda barulhenta de truco, regada a doses de pinga e cerveja. Vez em quando chegava o Seu Afonso, fiscal da saúde municipal, com sua infalível pasta preta debaixo do braço, fazendo a ronda pelo comercio.

Na memória ficaram também os passeios na casa do padrinho Bernardino, onde a madrinha nos servia café com pão e queijo feito com o leite tirado das vacas que pastavam por entre as toras da velha e já desativada serraria. Essa serraria abandonada era o nosso deleite para brincar. Havia os porões, o trole sobre trilhos que era a nossa locomotiva e milhares de lugares bons pra brincar de esconde-esconde. Só tinha que tomar cuidado com as vacas, porque algumas eram brabas e corriam atrás da gente! Ali, passávamos todo o nosso dia, brincando, comendo amoras e pêssegos no pasto. No final do dia o Toninho Moreira nos levava prá casa no sítio, de Lambreta, ou o Migo no caminhão de toras, depois de devidamente abençoados pela madrinha!