“A luxuria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha a servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço na nova terra. O ambiente em que começou a vida brasileira foi quase uma intoxicação social. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia de Jesus precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregar aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho”
O texto acima é um excerto do livro de Gilberto Freire “Casa Grande & Senzala” onde o autor procura retratar o pensamento do brasileiro. Publicado no Rio de Janeiro em setembro de 1933, depois de inúmeras edições, esse livro ainda nos instiga a repensar o inicio da colonização do Brasil e qual o peso dessa colonização na formação do pensamento do povo brasileiro. É uma obra de fundamental importância e continua seduzindo pelas suas teorias emblemáticas.
Segundo Freire, a convivência entre a casa grande e a senzala foi grande e importante. Havia uma estreita ligação entre ambos e isso influenciou no surgimento de um povo com características próprias e únicas para formar o que somos hoje. Desde o primeiro contato com as índias, nos primeiros momentos, e depois com a convivência com as escravas, o apelo sexual dos portugueses foi muito forte.
Portugal sempre foi um país de características cosmopolitas, em conseqüência da sua localização estratégica. Situado num entroncamento de mares e continentes, o pequeno pais lusitano sempre recebeu e conviveu com pessoas do mundo todo. O português, teoricamente sempre foi um povo aberto ao relacionamento com povos estranhos e ao chegar ao Brasil foi logo fazendo amizades e espalhando as suas sementes no fértil terreno dos trópicos.
Mais tarde, com a escravidão, mais uma injeção de vitamina na libido lusitana. As férteis negras deixaram-se seduzir pelos sinhôs e com eles inventaram o ícone sargenteliano: as mulatas!
A realidade dos fatos é claro, ninguém conhece. Mas se formos escovar a historia á contrapelo, como nos sugere o alemão Walter Benjamin, descobriremos que essa harmonia é certamente exagerada. Dono da situação, o senhor com certeza não fazia questão de cortejar as escravas. Sua palavra era lei e para não sofrer castigos elas se entregavam sem resistência aos mais animalescos instintos. A isso se soma o fato da sinhá muitas vezes enciumada pela traição do marido, maltratar as suas mucamas.
Mas Gilberto Freire ainda é um fenômeno! Vale à pena conhecer as suas idéias, assim como as de Caio Prado Junior e Sergio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil).
Realmente Gilberto Freyre - Uma biografia cultural?
ResponderExcluirDe Enrique Rodrígues Larreta e Guillhermo Giucci.
Editora Civilização Brasileira.
Um shou de livro.
Se não leu, recomendo.
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