Faustino Antunes

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


CHEIROS DE ANTIGAMENTE


É interessante perceber que nas nossas lembranças, conseguimos sentir os cheiros como se fossem atuais, como se os estivéssemos sentindo agora. Não sou saudosista como pareço, mas como sei que sou o resultado de uma construção de coisas passadas, as vezes pego-me a rememorar fatos que estão perdidos nos arquivos do que se foi. E esses fatos geralmente vem acompanhados dos seus respectivos cheiros.
Nas tardes modorrentas quando a janta começava a ser preparada, o cheiro ardido da lenha no fogão era de lei. Uma vez por semana o forno de barro exalava um misto de cheiro de pão quentinho, misturado com o do amendoim que era torrado junto para aproveitar o calor. As floradas das laranjeiras eram um prelúdio de que a primavera estava chegando. As flores do café perfumavam o ar intensamente num misto de nostalgia e paixão. O cheiro de terra molhada era carregado de frescor e me fazia particularmente feliz pelo amor que sentia e sinto até hoje pela chuva que restaura o solo e as plantas.
Alguns outros cheiros não eram tão constantes, mas também deixaram marcas na lembrança. E assim como o cheiro do milho embonecando, com seus pendões agitados pelo vento. O cheiro do arroz maduro quase em ponto de colheita, com melancias plantadas pelo meio. Melão maduro no meio do cafezal exalava um delicioso perfume de fruta gostosa e pelo cheiro se encontrava o fruto, de preferência antes dos passarinhos. Na colheita do arroz, a palha ao secar perfumava todo o ambiente com seu cheiro doce. O do sabão no taxo era bem diferente do da rapadura e do torresmo, mas todos estão gravados na lembrança. Quando cachos de bananas amadureciam perdidos no bananal, não era difícil encontrá-los, pelo odor característico que exalavam. Se algum cacho de uva amadurecia antes dos outros, qualquer pessoa que passasse por perto o saberia. O cheiro da erva-doce nos pães de Natal vai estar presente em todos os natais do mundo, assim como o do doce de figo e de pêssego. O café secando no terreiro exalava um cheiro adocicado e gostoso, mas que em nada lembrava o delicioso cheiro do café sendo coado.
E assim era! E muitas outras flagrâncias que se perderam no tempo, mas que de repente voltam com força, fazendo lembrar que nem só de imagens são feitas as nossas lembranças! Somos seres sentimentais e nossa memória está presente em cada célula do nosso corpo!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

UM POUCO MAIS


Quero ainda um pouco mais
Sugar esse néctar,
Mesmo amargo,
Às vezes intragável

Ainda quero sentir,
Pulsar um resto de vida.
Sentir que o sangue escarlate,
Ainda circula

Quero, no meu peito,
Um pouco mais de ar
Um resto de energia,
Um ultimo pulsar.

Quero nos meus olhos,
Um pouco mais de luz.
Quero ver as cores,
Um pouco mais

E se for possível ainda,
Um ultimo sonho
Uma ultima ilusão,
E quem sabe um sorriso!

E se não for pedir muito
Uma ultima chuva
Acompanhada com certeza
Pelo cantar dos pássaros

E depois então,
Um abraço terno
De um pai amoroso
No filho que volta!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


O TIO ZÉ


O tio Zé era uma figura ímpar! Sempre brincalhão, nunca parava quieto e ai de quem estivesse perto dele! Quando fazia a barba, passava espuma na cara de qualquer criança que passasse por ali. Grande contador de causos e historias, gostava de me chamar de "rabataxas", o que nunca soube o que era. Quando vinha de Mandaguaçu passar alguns dias conosco, era uma alegria. Certa vez, chegou com um saco com meia dúzia de coelhos nas costas, contando divertido que tivera o maior trabalho para esconder do motorista do ônibus que trazia uma carga viva, o que era proibido. Um dos animais não suportou o suplicio dentro do saco e morreu no caminho!
Um dia, caminhávamos com ele pela roça, entre os pés de café, quando tivemos a infeliz idéia de mostrar-lhe uma enorme caixa de maribondos que havíamos encontrado dias antes. Chegou perto da bichona com todo cuidado para admirar o tamanho, seguido pela molecada. De repente, num golpe rápido, deu um baita soco no ninho dos marimbondos e desandou a correr para não ser picado. A molecada, pega de surpresa, vazou em todas as direções, levando no peito galhos de café, pés de milho e o que mais havia pela frente, batendo as mãos nos cabelos para afugentar os intrusos que os seguiam. Mais tarde nos encontramos para mostrar as marcas nos braços, pernas e rostos, deixados pelos insetos atiçados pelo tio Zé, que não foi picado uma única vez!

QUEM SOU EU?


Se me perguntas quem eu sou,
Não sei, te responderei!
Já tanto me defini
Já tanto me questionei
Depois de tantas procuras
Até hoje eu não sei!

Quanto mais eu me procuro,
Menos sei onde eu estou.
Se me busco, não me encontro.
Se me encontro não sou eu.
Quanto mais me interrogo,
Menos respostas me dou

Quanto mais procuro a luz
Mais às cegas eu caminho
Minha sina é perguntar
Meu destino é não saber
Nunca acho as respostas
Onde quer que eu vá bater

Se achas que me conheces
Não me contes, por favor,
Não me faças passar medo
Revelando-me um segredo
Que eu não possa suportar
Que me possa causar dor!


MARMITAS

A tal da marmita é um objeto muito interessante. Muito útil, mas eternamente odiada pelos usuarios! É um mal necessário e até hoje nunca encontrei alguém que se orgulhasse de sua marmita. Nunca alguém já chegou para você, todo prosa, apresentando o utensílio:
- Veja que maravilha! Veja os detalhes, as repartições, tem lugar pra salada, pra carne e até pra sobremesa!
Ou então:
- Já tinha visto uma destas? De dois andares? Desenhada em dourado? Não é uma jóia?
Que o diga o Alex! Conta que uma vez, nos tempos brabos de proletário, quando batalhava todos os dias numa revenda de adubos e sementes, ele vinha todo o dia trabalhar de circular. Como ganhava pouco como a maioria dos brasileiros e não podia se dar ao luxo de almoçar em restaurantes, ele se obrigava a trazer de casa a abençoada marmita. Morria de vergonha dela e sempre que podia deixava a danada meio escondida, o mais longe possível de onde ele estava, como quem não tinha nada a ver com aquilo. Só recolhia apressadamente no ultimo minuto, quando ia descer do ônibus. Mas um dia, por capricho não se sabe de quais forças, ele colocou o utensílio numa saliência do busão e se afastou como costumeiramente para disfarçar. Não é que num dos solavancos que o ônibus deu, a traia soltou a tampa, que veio rolando até o meio do corredor. Muito solícita uma das passageiras, senhora já de certa idade, recolheu o apetrecho e veio entregar nas mãos do lívido Alex.
- Toma meu filho. Isto caiu da sua marmita!


NA ROÇA

Juventino levantava cedo, com o sol ainda ensaiando os seus primeiros raios lá pras bandas do ribeirão. Acordava a patroa para fazer o café, abastecer as marmitas e recolher os ovos das galinhas, enquanto ele tratava dos porcos. Depois iam para a roça, com as enxadas nas costas, onde davam duro na capina, limpando os pés de milho do mato, durante todo o dia. Era trabalho puxado, parando somente duas vezes, uma para o almoço e outra á tarde para um café geladinho com polenta frita. A marmita do almoço era arroz com feijão, temperado com muito alho e cebolinha de cheiro. Quando tinha porco na lata ela vinha toda cheirosa, enfeitada com um pedacinho de carne, e quando não, era o infalível ovo frito mesmo. Um dia, Juventino ao abrir o utensílio, se assustou com o tamanho do ovo:
- Ô Marvina, a marmita hoje veio com duas tampa!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


METROPOLITANO


No busão superlotado
Ser feliz é complicado
Mas tentar tá liberado


Um passinho, minha gente!
Que assim cabe todo mundo
Cada um se ajeitando
No final dá tudo certo
Mas não encosta na comadre
Que senão o braço come!
Pra amansar cabra safado
Pode crer que aqui tem “home”


Mãos grandes e calejadas
Esmagam o celular:
- tô de mercedes minha véia,
de chofer particular
- apresse o rango, adoçe o suco
põe a pinga pra gelar!
- mexe logo esse bundão,
Que eu não tardo a chegar!


Lá no fundo o Severino,
Se equilibra como pode.
Barba rala enfeita a cara.
Brim azul e fujiwara.
A marmita completa a grife,
Que é a onda do momento.
Combinando c’a camisa,
Estampada de cimento


Garotão disfarça e olha,
Pro decote exagerado.
Enquanto a patricinha,
C’a maior cara de enfado,
Se protege como pode,
Do sovaco reticente,
Do mau hálito caliente,
Desse proletariado.


Eu só olho e reconheço,
Ser feliz é só querer.
E no busão superlotado,
É só você olhar pro lado,
Pra sentir a alegria.
É a grande diversidade,
Indo e vindo todo o dia,
Com um “q” de novidade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010


DEMÊNCIA


Se um dia a demência me abraçar,
E o meu olhar se tornar inexpressivo,
Quero que saibam aqueles que eu amo,
Que em algum lugar escondido no meu ser,
Esse amor antigo ainda continua vivo

Embora minhas palavras sejam sem sentido,
E da vida eu parecer ter-me separado,
No meu corpo trêmulo e desordenado,
Uma voz muda falará por mim,
Que mesmo distante ainda estou aqui.

E o meu silencio, com certeza gritará,
Que os momentos de ternura e de carinho,
Estão ainda em algum lugar gravados.
E apesar da minha aparência solitária,
Enquanto eu tiver ao meu lado os que amo,
Em tempo algum eu me sentirei sozinho!


VIDA NO SITIO


“Bom mesmo era a infância no sitio, não porque era no sitio, mas porque era na infância”.


A frase acima, que já vi em vários lugares, escrita de varias maneiras e que até hoje não descobri o autor, fala de uma realidade inquestionável: os valores das nossas lembranças dependem muito da época ou do nosso estado de espírito.
A vida no sitio não era lá muito fácil. Desde pequeno já tinha as minhas responsabilidades, fossem elas capinar o dia inteiro, recolher os ovos das galinhas (que tinha que ser feito diariamente), tratar e dar água para os porcos, etc.
Era um pequeno sitio com aproximadamente quatro mil pés de café. Nas entrelinhas plantávamos milho, feijão, arroz e essa cultura diversificada nos dava trabalho o ano inteiro. O plantio do milho era feito geralmente com as primeiras chuvas da primavera, às vezes feito na matraca, outras vezes em covas feitas no enxadão. Quando os pés já estavam secos, havia na época a pratica de dobrá-los para que a água da chuva não afetasse demais os grãos nas espigas. Posteriormente o milho era colhido e amontoado na roça em montes chamados “bandeiras”, recolhido em balaios e levado para o paiol na carroça de tração animal.
O feijão era plantado na matraca e alguns meses depois arrancado á mão e batido na roça mesmo sobre panos, com um instrumento que chamávamos de cambau. Até hoje as costas doem só de lembrar das colheitas de feijão.
O arroz, quando as espigas estavam douradas, era cortado com um instrumento especifico e batido em bancas, levado para uma pequena secagem nos terreiros e finalmente guardado nas tulhas.

As crianças estudavam na parte da manhã e depois do almoço ninguém refugava para não apanhar: era pegar o caminho da roça e o relógio que marcava o final do dia era o sol! Folga somente no domingo que era dia de missa e de frango na panela!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O PORQUÊ DOS NOMES


OS DOZE MESES DO ANO

- Janeiro: homenagem ao Deus Janus, protetor dos lares
- Fevereiro: mês do festival de Februália (purificação dos pecados), em Roma;
- Março: em homenagem a Marte, deus guerreiro;
- Abril: derivado do latim Aperire (o que abre). Possível referência à primavera no Hemisfério Norte;
- Maio: acredita-se que se origine de maia, deusa do crescimento das plantas;
- Junho: mês que homenageia Juno, protetora das mulheres;
- Julho: No primeiro calendário romano, de 10 meses, era chamado de quintilis (5º mês). Foi rebatizado por Júlio César;
- Agosto: Inicialmente nomeado de sextilis (6º mês), mudou em homenagem a César Augusto ;
- Setembro: era o sétimo mês. Vem do latim septem;
- Outubro: Na contagem dos romanos, era o oitavo mês;
- Novembro: Vem do latim novem (nove);
- Dezembro: era o décimo mês

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

TECNOLOGIA X CONSUMISMO


TECNOLOGIA


Se você tem mais de cinqüenta anos como eu, com certeza deve ter alguma dificuldade em assimilar essa enxurrada de modernidades que são despejadas sobre nós a todo o momento. Tudo é descartável! Os produtos lançados hoje no mercado serão obsoletos amanhã e a mídia nos força a consumir de forma desenfreada. A maioria das pessoas não se dá conta de que faz parte de estratégias criadas para nos convencer a consumir cada vez mais. Somos constantemente bombardeados por propagandas que nos incitam a comprar o que não precisamos. E o mais incrível: essa mesma mídia nos convence de que temos liberdade de escolha ao mesmo tempo em que nos força a comprar o que ela quer.
No inicio do século XIX o alemão Herbert Marcuse já alertava para o desenvolvimento descontrolado da tecnologia e criticava a modernidade por ela ter falhado ao prometer a felicidade que não possuía. Questionava se as nossas necessidades são reais ou apenas desejos que queremos realizar para satisfazer as convenções sociais. Será que temos necessidade de trocar o nosso carro, celular, moveis ou o que seja, ou fazemos isso para mostrar que somos antenados e acompanhamos a onda?
Como vemos, os questionamentos de Marcuse saltaram de século e de milênio, mas continuam atuais. Com o agravante de que hoje a tecnologia galopa velozmente e estamos tendo um grande trabalho para acompanhá-la!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PAZ


PAZ


Preciso urgentemente de paz
Nem que seja por um só momento
Aquela paz que se tem quando se dorme
Aquela paz que se tem quando se morre

Quero, por um instante esquecer o mundo.
E pelo mundo também ser esquecido
Romper cadeias, eliminar o tempo.
Romper os elos, eliminar o espaço.

Quero sentir a liberdade plena
Como ave que voa para alem das turbulências
Como alma que se afasta das tormentas
E busca em sim mesma, a calmaria.

Quem sabe, de repente num meditar sereno.
Eu possa encontrar a solidão que faz
A alma exultar numa alegria intensa
E finalmente eu sinta a tão sonhada paz !

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

RENASCIMENTO


METAMORFOSE




Quero mudar
Ser diferente
Olhar o mundo
De um outro jeito

Quero sentir
A nova luz
Iluminando-me
Também por dentro

Quero aprender
A controlar-me
A oferecer
A outra face

Quero polir
As minhas crenças
Amortizando
Minhas vaidades

Quero mudar
Radicalmente
Ouvindo mais
Falando menos

Quero sentir
Me derrubando
A machadinha
De João Batista

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A CULTURA DO CAFÉ


Na região de Marialva, Noroeste do Paraná, antes da geada de 1975, não se praticava a monocultura. A uva de mesa e a soja ainda não haviam chegado à região e praticamente todas as propriedades possuíam pelo menos um talhão plantado com café. Os espaçamentos entre os cafeeiros eram feitos de maneira que pudessem ser aproveitados para outras culturas. Milho, feijão e arroz conviviam com os pés de café e os sitiantes raramente procuravam esses produtos nos mercados, pois produziam o suficiente para os seus gastos.
Em setembro aconteciam as floradas, quase sempre em numero de três e logo depois que as flores caíam, no seu lugar surgiam pequenos frutos. Com o desenvolvimento destes, era hora de começar a arruação, ou seja, de se preparar o terreno para a colheita. Todos os ciscos e folhas juntamente com a terra irregular eram retirados de baixo dos pés, fazendo-se um cordão no meio das ruas. Quando o café amadurecia, iniciava-se a colheita com a derriça, que consistia em derrubar os grãos no chão, com as mãos ou com a ajuda de um porrete se eles estivessem bem secos.
Depois da derriça, aí é que vinha o serviço das crianças, na limpeza dos troncos com uma vassourinha ou com as próprias mãos, afastando as palhas do tronco dos cafeeiros, juntamente com aranhas e cobras que estivessem ali escondidos.
Na parte final da colheita os grãos eram então amontoados com a ajuda de um rastelo de madeira e arame e finalmente abanados em peneiras e armazenados em grandes sacos de lona, conhecidos como sacos “coronel” Depois era só levar a produção para os terreiros de tijolos para a secagem.
A secagem era uma historia á parte. O café era espalhado pelo terreirão e com um rastelo se faziam leiras que eram mudadas varias vezes ao dia para facilitar a penetração dos raios de sol. De tardezinha, antes de ele esfriar, era amontoado em grandes montes e coberto com encerados “Locomotiva” para conservar a temperatura adquirida durante o dia. Isso acontecia durantes vários dias, até que atingisse a umidade necessária para o armazenamento, que era feito nas tulhas e ali ficava o tempo necessário até que fosse comercializado.
Muito trabalhosa a cultura do café. Os trabalhadores laboravam de sol a sol na derriça, no rastelo ou na peneira e ao cair a tarde, só se enxergavam os olhos, de tanta poeira acumulada.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

LEMBRANÇAS


A VELHA SERRARIA


No caminho da escola, havia uma velha serraria. A serraria do Bravim era um ponto de referencia e também o nosso relógio. Manoel Tavares, o foguista oficial acordava muito cedo para botar fogo na caldeira que fazia funcionar todas as maquinas. Apitava ás sete horas da manhã, e era hora de tomar café, juntar a mochilinha de brim e partir para a escola. Às dez horas, apitava de novo e os trabalhadores rurais da redondeza botavam suas enxadas nas costas e era hora do almoço. Às seis horas da tarde, um ultimo apito e era hora de voltar para casa para o banho no chuveiro de carretilha com a água esquentada na chaleira, a janta e o merecido sono no colchão de palha. Extraordinariamente na passagem de ano, a caldeira da serraria ficava acesa até á meia noite para o apito do Ano Novo, na companhia do foguetório tradicional.
Era um lugar mágico. Ficava horas admirando a enorme serra subindo e descendo movida por pesadas correias, abrindo ao meio grandes toras. Madeiras de lei, abundantes naquela época, como canafistulas, cedros, jequitibás, a insubstituível peroba rosa e outras, eram em pouco tempo divididas depois pela serra circular em vigas, caibros e tabuas entre o barulho ensurdecedor das serras, gritos de funcionários e a serragem poeirenta que cobria tudo. Do lado de fora, na beira da estrada era o deposito de toras, onde infalivelmente na volta da escola, pulávamos de uma na outra, ou às vezes nos escondíamos para assustar os colegas que haviam ficado para traz.
Quando mais tarde aprendi sobre a revolução industrial, recordei imediatamente da velha serraria do Bravim, que no meu imaginário era o que de maior havia na transformação de matéria prima bruta, em produtos beneficiados. Afinal, aquela fabrica, movida pelos seus próprios resíduos, transformava toras primitivas em bonitas e confortáveis casas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

AS SOMBRAS DA CAVERNA


COGITO ERGO SUM


Não sei se sou quem eu penso que sou
Ou se sou o que os outros pensam de mim
Se sou real ou se na verdade nem existo
Ou se somente eu existo e o resto é irreal

E para questionar essas dúvidas existenciais
Eu penso que penso, e se penso, logo existo,
Garante-me Descartes, mas mesmo assim não sei,
Se pode-se confiar ou não, nesse francês metódico.

E se às vezes me perco entre o real e a fantasia
E se a vida de repente me parece um déjà vu.
Sinto-me prisioneiro na caverna de Platão
Acreditando iludido, na realidade das sombras.

E nesse infindável “Matrix”, eu só tenho uma certeza.
Mesmo sem saber das coisas, sem concluir nada,
Sinto no meu âmago que a verdade realmente existe
E que um dia ainda hei de saber de tudo!

Há muitos anos atrás, Saint-Exupéry nos dizia no seu famoso livro “O Pequeno Príncipe” que os adultos têm dificuldades em entender qualquer linguagem que não seja a dos números. E exemplificava: se dissermos a um adulto que vimos uma casa linda e maravilhosa, de tal cor e tal feitio, ele não conseguiria imaginar essa casa. Mas se dissermos a esse adulto que vimos uma casa de um milhão de reais ou dólares, imediatamente ele conseguiria visualizar o que queríamos.
Vemos hoje na questão ambiental, alguma coisa semelhante. A nossa preocupação só se torna visível quando os dados são apresentados em números. Ultimamente os meios de comunicação tem nos mostrado alguns estudos sobre o prejuízo de não conservarmos o meio ambiente. Dá-nos em números aproximados quanto estamos perdendo em não conservarmos os nossos corais, mares e oceanos e consequentemente diminuindo a produção de peixes. Apresenta-nos um valor numérico do trabalho dos insetos na conservação da natureza. Chega mesmo a fazer uma previsão do que perdemos ao explorar as abelhas para a produção de mel, não as deixando livres somente para a polinização das flores. Nas contas de mais créditos e menos débitos, o nosso saldo começa a ficar negativo.
Desde que o homem se entende por homem e principalmente depois da Revolução Industrial, os interesses econômicos falam mais alto que o amor pela natureza. Vale tudo ou quase tudo para se acumular riquezas, até mesmo comprometer o nosso futuro no planeta. Esquecemos-nos que as gerações futuras também têm o direito de usufruir de todas as maravilhas que a Terra nos oferece graciosamente e que hoje elas não têm essa garantia. Como nos diz a bela frase de origem incerta: “Não herdamos o planeta Terra dos nossos antepassados, mas o tomamos emprestado das nossas futuras gerações”

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

TÍTERES



Nascemos pra consumir
E pra sermos consumidos
Vivemos condicionados,
A não pensar.

O sistema nos dirige
E nos dita o que fazer
Aceitamos esse jugo,
Sem questionar.

Perdemos nossas vontades
Pra essa força prepotente
Que nos suga a energia,
No dia a dia.

Somos gado obediente
Neste pampa universal
A pastar e a ruminar,
Sem reclamar.

Mugimos e concordamos
Na fila do matadouro,
Barganhamos nossas vidas
Sem pechinchar.

Desde o berço até a cova
Que dóceis marionetes!
A corda que nos maneja,
É curta e grossa.


Faustino


No dia 30 de novembro de 1935, o mundo deu adeus a um dos seus maiores poetas, Fernando Pessoa. Depois de 75 anos, sua obra permanece atual. Homenagem do blog a esse grande escritor que nos ensina o que é ser imortal.




Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver

Apesar de todos os desafios,

Incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas

E se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si,

Mas ser capaz de encontrar um oásis

No recôndito da sua alma.



É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “não”.

É ter segurança para receber uma crítica,

Mesmo que injusta.



Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou

Construir um castelo ...

Fernando Pessoa

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

TIC-TAC



Tic-tac faz o cuco indolente
Lembrando-me que estou vivo
E que o tempo passa. E não volta
Nunca volta, e só dá voltas.

E se brilha o sol no horizonte
Ou uma chuva fininha me visita
Ele corre a toda brida,
Querendo fugir de mim

Se, porém o tempo fecha.
E a tormenta me faz pequenino
Esse insensível peregrino
Arrasta-se feito uma lesma

E no seu infindável tic-tac
Esse patrão me vigia
Contando os meus passos
Controlando meus espaços

Um dia ainda quebro esses doze olhos
Mesmo sabendo que vou ficar perdido
Que vou caminhar sem rumo pela vida
E que perderei até a minha identidade

Não importa! Sem regras, é o meu grito.
Vá controlar esses escravos enrustidos!
Porque eu me recuso a dar ouvidos
A esse infindável barulhinho maldito!


Faustino

DESGOVERNADO

O PILOTO SUMIU !!


Valha-nos Deus!
O piloto sumiu!
Estamos perdidos,
Nesta nave descontrolada!
E ninguém sabe de nada!

Estamos sem rumo e direção
Indo não sabe para onde
Sem saber se chegaremos
Sem saber em que estado
Ou em que costado

E se isto explodir
O que faremos?
Se não morremos
Seremos sobreviventes
Talvez até sem dentes

Sem piloto experiente
Este bonde vai a esmo
Sem controle e direção.
Pode ser, pode não ser.
E pode até deixar de ser

E o que vamos fazer,
A não se rezar
Pra um milagre acontecer
E alguém aparecer
Pra nos salvar

Faustino

AS TAMANCAS DA RAINHA


QUINTO DOS INFERNOS


Caio fora, e é agora,
Deste quinto dos infernos
Desta terra maldita
Nem o pó quero levar
Agarrado nas tamancas

Que é que eu quero c’as favelas
C’o esta horda de remelas
Com este povinho futrica
Que cultiva tiririca
No melhor das suas terras

Porque é que eu fui aqui
Amarrar o meu jumento
Neste sitio purulento
Onde uma vida humana
Não vale meia pataca

Onde as aves de rapina
São tratadas a pão de ló,
E as pombas essas coitadas
Dos seus ninhos são chutadas
Sem piedade e sem dó

Nesta terra sem justiça
Onde a lei não vale nada
É o reino da marmelada
E a sentença do mais forte
Vale por pena de morte

Vou voltar pra minha terra
(lá sou amiga do rei)
Lá povo não mete o bedelho
E quando lá morre o monarca
Coroamos o fedelho

Faustino

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ENTREGA

Esquece a metafísica do pentagrama,
Que te envolve numa sintonia mágica
E te apresenta uma realidade ilógica,
E te aprisiona num anel simbólico.


Deixe-se enlevar pela contemplação
E pela paz que transcende teus sentidos
Deixe a suave e envolvente musica celeste
Penetrar teus poros e te dominar num todo


Sinta num enlevo, o carinho do teu Criador.
Que te envolve inteiro num olhar apaixonado
Declarando o seu incondicional cuidado
Numa infindável declaração de amor!


Se entregue, acalma o teu ego irrequieto.
Não ofereças resistência, acolhe esse carinho.
Descansa simplesmente e confia
Que um universo inteiro trabalha em teu favor!

Faustino

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

EGO

FERA


Carrego em mim uma fera insaciável,
Que me devora, me consome, me domina.
A quem eu alimento dia e noite, eternamente.
E nunca está contente.

Vive em mim, está em mim, mas não sou eu,
E desde o meu primeiro choro,
Quando a luz aconteceu,
Deu-me o braço e nos fundimos
E nunca mais nos separamos.

Batemos-nos como dois gladiadores
Travamos batalhas mortais
Pra ver quem pode mais
E quase sempre posso menos

Esse meu pedaço carente e sedutor
Tão pequenino que se faz gigante
Que chora, se escabela e esperneia
Faz ouvidos moucos à razão.
E vive eternamente insatisfeito

Eu o observo, e geralmente o satisfaço.
Obedeço e dou-lhe sempre o que deseja.
Alimentando-o com meus pensamentos
Para satisfazer essa criança sem limites.

E assim eu vivo, com meu ego a tiracolo,
Por ele transito entre o passado e o futuro
Fugindo do agora, do hoje, do meu “carp diem”.
Servindo esse pilantra que me suga,
Se confundindo com minha própria existência.

Faustino

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

É O FIM


C’EST FINI


Descartem vossas mortalhas dilaceradas
Zumbis de plantão.
Não há mais a quem assustar

A realidade mudou. O sonho acabou
A ultima mulher sucumbiu á ultima pedrada
E a turba se esfacelou na areia

O vento parou e com ele, os moinhos.
A água parou e com ela os, monjolos.
O sangue parou e com ele, a vida.

Depois da letra, o ponto.
Depois do grito, o silencio.
Depois do fim, a lagrima.

Não há mais ovos á eclodir
Nem mais sementes á medrar
Nem há vida a pulsar

Somente a fênix teimosa se levanta
E sacode as cinzas
E alça vôo! Está sozinha!


Faustino

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PENSAMENTOS




CALA


Cala, cala tua baioneta.
E te cala
Porque na calada o inimigo acorda
Sem pudores, sem medo.
E ataca

Cala-te
Para ouvir a voz que não é dita
Cala-te
Àquele que te ataca
E que te mata

Não te fies no escudo enferrujado
Que te defende
Sente a tenaz tão insistente
Que te prende
E te repreende

Porque calado o teu silencio grita
E te condena
Te acusa, te fere, te difama.
Te corrompe e te agride
E sem ter pena!

Se pelos flancos o inimigo ataca
Não o enfrentes
Pra que entendas,
Pra que compreendas que essa fera nasce
Das tuas entranhas!


Faustino

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA


Há cento e vinte e um anos atrás, éramos súditos do imperador D. Pedro II, o único monarca das Américas. O nosso governante era um homem muito respeitado e admirado pelas grandes personalidades internacionais da época. Era conhecido como “Príncipe Filosofo” e “Homem de Ciência”, sendo admirado por grandes pensadores, como Darwin e Nietzsche. D. Pedro não aceitava as diferenças raciais, e era favorável á libertação dos escravos, tolerando a escravidão somente para não descontentar as oligarquias agrárias. Mantinha relações de amizade com os grandes expoentes da cultura internacional, como filósofos, cientistas e poetas. Procurava estar presente em todos os eventos culturais, tendo viajado para varias partes do mundo.
Mas aqui no Brasil, a monarquia estava em crise. Finda a guerra do Paraguai, a divida externa havia crescido muito. Abolida a escravidão, os antigos proprietários de escravos exigiam indenizações por terem perdido o seu capital humano. Com o aumento da classe media, havia um grande desejo do povo pela liberdade e pela participação na política e nas tomadas das decisões importantes para os rumos do país. Havia ainda a questão religiosa, com vários bispos da Igreja não aceitando as decisões do imperador, principalmente com relação á maçonaria.
No dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, antiga capital do Império, o Marechal Deodoro da Fonseca proclama a republica. Um grande passo para a democracia que passou quase despercebido pela população em geral, como salientou o ministro Aristides Lobo – “A proclamação ocorreu ás vistas de um povo que assistiu a tudo de forma bestializada”.
E depois disto, da proclamação até a chegada de Getulio Vargas, o Brasil foi loteado entre mineiros e paulistas no que foi conhecido como “Republica café com leite”. Mas aí já é outra historia.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

GRUPO ESCOLAR DE MARIALVA



Nas minhas freqüentes divagações, fico ás vezes a recordar de como eram as coisas e como era a minha cidade há quarenta anos atrás. Vejo-me molequinho ainda, magrelinho, arrastando uma mochila feita de brim pela minha mãe, abotoada na frente com um grande botão (morria de vergonha dela – queria ter uma de couro como os alunos mais abastados). A estrada, que naquela época me parecia sem fim, era normalmente coberta de poeira ou de barro de vez em quando. Saía do sitio no quilometro um da estrada Marialva, contornava um cafezal que ficava perto da estação ferroviária, pois o pontilhão era de madeira e estava quebrado e ia bater os costados lá no Grupo Escolar.
Na escola, a primeira a sair da sacola era a cartilha Caminho Suave, onde um universo de figuras e letras me ensinavam a ler e escrever, com a orientação da professora Cleonice Colhado. Abelha, zabumba, Nhá Maria, igreja, unha, dado e cachorro ca co cu Os cadernos, geralmente não muito limpos por conta das tarefas feitas no sitio com as mãos mal lavadas serviam para repetir as lições da professora. E pelos anos seguintes, muitos cadernos de caligrafia foram consumidos por conta da letra feia e incompreensível. Caneta nem pensar e os lápis de cor me fascinavam pela sua beleza.
O bom mesmo eram as festas na escola. No dia das crianças, muitos doces e geralmente as professoras se desdobravam em artistas e palhaços para divertir a criançada. Nas aulas de regência, as novas professoras passavam alguns dias substituindo a titular, enchendo nossos cadernos de carimbos e figurinhas coloridas e na ultima aula se despediam nos fazendo felizes com pequenas lembrancinhas.
As series, que chamávamos de anos, eram diferenciadas pela cor da capa dos cadernos. Se não me engano, a capa do primeiro ano era amarela, do segundo verde, do terceiro azul e do quarto vermelha.
Um fato que marcou: um dia o Robertinho “louco” entrou correndo na escola, querendo “pegar” alguns moleques que mexeram com ele e pôs todo mundo em polvorosa. Fui parar no final do corredor, escondido no meio de um bando de outros alunos tão medrosos quanto eu.
Figuras de quem eu não me esquecerei: Seu Sinhô, zelador da escola e inspetor de alunos. Dona Perolina, com cara de braba sempre cuidando da disciplina da molecada. Dona Mariazinha, enérgica e doce ao mesmo tempo. Dona Terezinha, que vendia doces no portão, fazendo a delicia dos nossos olhos (geralmente só dos olhos, porque dinheiro nunca tinha), um dia inventou de rechear o manjar com a calda do pudim e fez o maior sucesso inventando o que todos chamavam de “matado”. Pirulitos amarelos e vermelhos, paçoquinhas, doces de abóbora em forma de coração e as inesquecíveis caixinhas da sorte com pequenas bijuterias dentro.
E os brinquedos! Tinha época dos piões, dos bilboquês, das pipas, das figurinhas onde os mais espertos rapelavam os menos espertos no “bafo”. Na hora do recreio, era uma festa, com o povo se agrupando ao redor das brincadeiras, numa mistura de gritos e risadas, até a dona Mariazinha chacoalhar ruidosamente o sino, nos chamando de novo para as nossas obrigações em sala.
Terror era quando havia vacina! Prendiam-nos todos dentro da sala de aula, com uma professora cuidando da porta e dá-lhe furo no braço! Escapei duas vezes, uma pulando um minúsculo vitrozinho quase me arrebentando todo do lado de fora, e outra fazendo um furinho no braço com o lápis e com a cara de maior sofredor do mundo mostrar para a professora que já havia tomado a maldita vacina.
O grande medo era do gabinete! Comportávamos-nos mediante ameaças de sermos levados para o famigerado lugar! Ninguém sabia o que havia lá, mas circulava que era um lugar horroroso, com todos os tipos de castigos possíveis a espera do aluno bagunceiro e desobediente. Eu particularmente morria de medo de umas cabeças sem corpo, modelos de tipos humanos, onde num deles se lia “caucasiano”.
As tarefas de casa eu quase nunca fazia, quer dizer, não fazia em casa, porque me obrigavam a fazê-las na sala de aula, numa carteira colocada estrategicamente na frente de todos. Palmatória não havia mais, graças a Deus, mas as unhas compridas da Zuleide torcendo-me as orelhas é cena que eu morro mas não esqueço!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

TÁ CERTO !!

"O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro".



Frase de Apparicio Torelli, Barão de Itararé.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CAMPANHA PRESIDENCIAL

Em poucos dias escolheremos nas urnas o nosso futuro presidente ou presidenta da republica. Os ânimos estão acirrados e notamos que vale tudo para se conseguir chegar ao Palácio do Planalto. Nos programas de radio e televisão, os candidatos estão muito preocupados em mostrar e dizer aquilo que os eleitores gastariam que dissessem e não o que realmente pensam. Estratégias são montadas para convencer a população a escolher. Detalhes são pensados e analisados para não se pisar em falso num momento em que um pequeno erro pode ser fatal.
Como seria bom se dissessem o que realmente pensam, sem se preocupar em perder pontos nas pesquisas! Nós os veríamos sem disfarces e conheceríamos quem realmente são, seus pensamentos e seus ideais. E votaríamos conscientes de conhecer as ideologias reais, sem mascaras e sem dissimulações. E os riscos de nos decepcionar depois seriam bem menores!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

RELATIVIDADE


Sentindo ainda a brisa da liberdade, apregoada por todo o país neste Sete de Setembro, nos sentimos compelidos a fazer algumas considerações sobre o fato acontecido no ano de 1822. Depois que Einstein nos confundiu com a teoria da relatividade, ficamos sabendo que neste universo onde tudo que acontece foge da nossa vã filosofia, tudo é relativo: o homem olha para o micróbio e o chama de doença, mas na concepção do micróbio, a doença é o homem que o entope de penicilina.
Voltando ao Sete de Setembro, ninguém sabe o que realmente aconteceu naquele momento histórico ás margens do riacho Ipiranga. Uns dizem que o garboso cavalo de D. Pedro não passava de uma mula e que o nosso imperador estava no momento acometido de uma maldita dor de barriga, mas isso não tem a menor importância diante do grito do imperador (que também ninguém sabe se realmente aconteceu). Mas o momento histórico importante era o seguinte: o aconteceu realmente naquele dia? Como eram as relações do Brasil com Portugal? Foi apenas um acordo entre pai e filho, ou foi uma guerra declarada pelo colonizado ao colonizador?
Evidencias nos dizem que houve sim algumas escaramuças, mas nada que possa ser chamado de derramamento de sangue. A própria frase de D. João VI nos deixa dúvidas: ”Se o Brasil se separar de Portugal, antes que seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”. O que quis dizer com isso o velho monarca? Recomendou ao filhito que tomasse providencias, pois a separação era inevitável?
Como vemos, a relatividade nos confunde. Se fatos que acontecem hoje, podem ser descritos de varias maneiras, imagine se acontecidos á vários séculos atrás!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MAQUIAVEL


Em tempos em que os valores humanos passam por uma grande crise, principalmente no ambiente político, vale a pena recordarmos de Nicolau Maquiavel com as suas discutidas teses. Segundo Maquiavel, o governante está liberado para mentir e trapacear se for necessário. Pode desrespeitar as considerações morais e recorrer á força e outros meios, para atingir os seus objetivos. Ainda, segundo ele, é melhor ser temido que amado, porque o amor é volúvel e inconstante enquanto o medo não pode ser modificado ou ignorado. Seu livro “O Príncipe” foi escrito como um guia para os governantes, alertando-os para as armadilhas encontradas na selva política.

Até hoje “maquiavélico” é sinônimo de manipulação. A frase que nos remete a ele, não se sabe se é ou não de sua autoria é de que os fins justificam os meios, ou seja, tudo vale para se atingir os objetivos almejados. Dá pra ver que ainda tem muita gente usando e abusando dos seus conceitos, centenas de anos depois de sua morte.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Redução temporaria de atividade

Estamos andando meio devagar com o nosso blog porque estamos colaborando temporariamente com o evandroaraujoblog.blogspot.com
Retornaremos brevemente com força total

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MARQUÊS DE MARIALVA






“HIC, UBI LUSIDUM JACET INSTAURATOR IN UMA, PIGNUS HABET POSITUM COR MARIALVA SUUM, CORDE SUUM SEQUITUR REGEM MARIALVA SEPULTUM UT VITAM CREDAS, NON PERIISSE FIDEM”.

Entenderam alguma coisa do latim aí em cima? Não? Nem a palavra MARIALVA? Pois essa é a inscrição que está junto do coração de D. Antonio Luiz de Meneses, o terceiro conde de Cantanhede e primeiro marquês de Marialva. Quando essa figura morreu, seu coração foi enterrado separado do resto do corpo, dentro de um cofre de prata, junto ao tumulo de D. João IV, um dos reis de Portugal.
De 1580 a 1640, Portugal era dominado pelos reis castelhanos da casa de Habsburgo e D. Antonio teve uma importante participação na libertação do país, conhecida como Guerra da Restauração, sendo por isso agraciado com o titulo de marquês de Marialva.
Provavelmente o nome Marialva tenha sido criado por Fernando Magno, rei de Leão e de Castela, em tributo á Virgem Maria (Maria Alba), cujo culto era muito comum nos séculos XI e XII.

sexta-feira, 16 de julho de 2010


A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade

RIBEIRÃO MARIALVA


O RIO DA MINHA INFÂNCIA



Na minha infância havia um rio. Para mim, era um grande rio, que só poderia ser atravessado por cima de pinguelas ou com muito cuidado pulando de pedra em pedra. Era chamado de córrego, mas nós crianças o chamávamos de “córgo”. E era nas margens desse córrego que extraiamos o barro azulado, que mais tarde fiquei sabendo que se chamava argila, para nos divertir fabricando bonecos e bolinhas que serviriam de munição para os estilingues. Esse barro era transportado em folhas de chapéu de couro, planta muito conhecida pelas suas propriedades medicinais e amassado nas mãos até tomar a forma desejada. Nas margens, colhíamos também os frutos de uma árvore conhecida na região como “salta martin”, que pareciam ser feitos de látex e eram muito bons para brincar. Peixes também havia alguns: lambaris, piabas, bagres, cascudos e os pequeninos guarus. Nas pescarias, as iscas eram as infalíveis massas de pão ou minhocas, mas geralmente pescávamos com as peneiras de abanar café. Era indescritível a sensação de ver os peixinhos pulando desesperados, querendo voltar pra água, mas iam mesmo para o embornal. Nunca me esquecerei do susto que levamos quando pescamos um cágado esperneando, que voltou pra água com peneira e tudo.
Nem só para as crianças se divertirem serviam as pinguelas. Quando havia terço do outro lado do rio, os adultos também se serviam delas, com as mulheres encarrapitadas, gritando de medo. Se era noite, os lampiões a querosene alumiavam o trajeto precariamente com as raízes no chão arrancando unhas e lascas dos pés dos passantes.
Hoje o meu rio ainda existe. Não posso dizer que esteja vivo, pois o fiozinho de água que escorre não comprova isso. Escorre por entre um mar de sacolas plásticas, garrafas Pet e outras tranqueiras produzidas pela modernidade. A fauna aquática praticamente desapareceu e somente algum guaru teimoso ainda resiste bravamente na água poluída. Um grande amigo de infância nos estertores da morte, mas que teima em continuar vivendo. Um bravo guerreiro que não entrega os pontos, mas até quando? Até quando a nossa irresponsabilidade vai continuar a ceifar vidas?
Infelizmente é só mais um, dos tantos sendo mortos em nosso planeta.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PROCURA-SE UM AMIGO




Procura-se um amigo, Vinicius de Moraes



Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

FICHA LIMPA - VOTO LIMPO

Estamos em ano de eleições. Dentro de alguns meses os brasileiros elegerão os políticos que nos governarão pelos próximos anos nas esferas federais e estaduais. As campanhas já estão nas ruas e a maioria dos candidatos já são velhos conhecidos nossos. Este ano, graças a Deus, temos a novidade da lei que impede que candidatos que tenham a chamada ficha suja sejam candidatos. É uma lei, de iniciativa popular, amplamente apoiada pela Igreja Católica, que tenta moralizar um pouco o nosso sistema político, repleto de escândalos e evidencias que nos mostram o descontrole a que chegamos.
Sabemos que muitos políticos, mesmo portadores de ficha suja, conseguirão se candidatar, usando para isso as brechas que a lei oferece. Sabemos que muitos outros, mesmo não condenados, deveriam se-lo, por nós eleitores, na hora do voto, porque conhecemos a sua falta de seriedade na administração da coisa publica.
Nós brasileiros somos acostumados a reclamar constantemente da situação do país, da roubalheira dos políticos, da falta de ética e moral do nosso povo, fazendo inclusive piadinhas a esse respeito. Mas não nos conscientizamos que a situação atual pode e deve ser mudada e isso depende da nossa atuação no dia das eleições. Precisamos conhecer o político que irá receber o nosso voto, saber do seu passado, sua atuação junto á comunidade e sua capacidade administrativa. E principalmente, não nos deixar levar por propaganda enganosa, pela compra de votos e pela conversa fiada da maioria dos candidatos. Sei que isso não é fácil, mas com um pouco de jeito, conversando aqui e ali, analisando as informações, chegaremos ao nosso representante. Nunca podemos nos esquecer do seguinte: estou elegendo o administrador do meu dinheiro, que foi arrecadado em impostos e que devera ser revertido em meu beneficio, através de obras do governo. Se esse candidato me oferecer alguma vantagem particular, com certeza oferecerá também a outros e para cumprir as suas promessas, terá que participar de atos ilícitos.
Voto consciente. Quero para meus filhos e netos, um país diferente do que eu tenho hoje. Preciso fazer a minha parte, e conscientizar os outros para que façam o mesmo. Uma gotinha de água pode não apagar um incêndio, mas, se todos seguirem o exemplo...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

UM DOCE CHAMADO CORA CORALINA





“Humildade




Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”

Cora Coralina

FELICIDADE



FELICIDADE

(Guilherme de Almeida)

Ela veio bater à minha porta
e falou-me, a sorrir, subindo a escada:
"Bom dia, árvore velha e desfolhada!"
E eu respondi: "Bom dia, folha morta!"

Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando, pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...

Então, chamou-me e disse: "Vou-me embora!
Sou a Felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz!"

E foi assim que, em plena primavera,
só quando ela partiu, contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!




Um sonêto que eu gostaria de ter escrito!!

domingo, 11 de julho de 2010

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL


Não entendo nada de futebol. Não sei se o Dunga deveria ter levado para a copa na África do Sul o fulano, sicrano, beltrano ou o Adriano. Não sei se erramos na tática, na falta de vontade de jogar, se os adversários foram desleais. Não sei quanto ganham os jogadores, se tinham motivação suficiente para representar o nosso país, se tinham condições físicas e as demais virtudes necessárias que se espera de um bom atleta. Não entendo nada de futebol e não quero sair por aí explicando o porquê da nossa derrota, como fazem milhões de brasileiros que, como eu, também não entendem nada de futebol. Outra coisa que também não entendo é essa história de “pátria de chuteiras” onde todos os valores do nosso povo estão nos pés de alguns profissionais e que se eles falharem, o mundo acabou. Mesmo não entendendo nada disso, também botei a camiseta verde e amarela, vibrei com os gols do Brasil e fiquei triste com os gols que fizeram na gente. O que eu não fiz, após a nossa derrota, foi amontoar a nossa bandeira com as faixas de TNT e mostrar cara de enterro, como se o mundo tivesse acabado. Não acabou não minha gente! Ainda temos e sempre teremos muitos valores para nos orgulhar! Temos ainda vários esportes nos quais também somos campeões. Temos ainda um povo forte, que apesar de sofrido, explorado e muitas vezes humilhado, ainda se mantém de cabeça erguida. A nossa raça não aparece apenas nos grandes estádios de futebol, mas aparece também no dia-a-dia, no grande desafio da vida, na superação de obstáculos e na luta constante pela sobrevivência. O Brasil se destaca no mundo como um dos países que mais se desenvolve em vários setores, que cresce pela força e pelo trabalho do seu povo. O brasileiro, com seu eterno bom humor, tem muito que ensinar aos outros povos. Jogar futebol com arte ele já ensinou e parece que os gringos aprenderam muito bem!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

9 de JULHO

Os paulistas comemoram hoje o aniversário da revolução constitucionalista de 1932. Foi o último grande conflito armado que tivemos no Brasil e é comemorado no estado de são Paulo como a mais importante data cívica da história. O objetivo dessa revolução era derrubar o governo provisório de Getulio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil. São Paulo e Minas Gerais viviam ás turras nessa época por conta da quebra do acordo café com leite, onde paulistas e mineiros se revezariam no poder. No conflito, morreram oficialmente 934 pessoas, mas há estimativas de mais de 2.200 mortos.

MAIS VINÍCIUS

Não deu pre resistir! Mais um pouco de Vinícius.


Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Vinícius de Moraes

VINICIUS DE MORAES

Há exatos trinta anos o mundo perdia o grande Vinicius de Moraes.
Não morreu, porque poetas não morrem!




SONETO DA SEPARAÇÃO



De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes


Não falei que ele não havia morrido?

A VOZ DO BRASIL

Você sabe qual é o programa de radio mais antigo do Brasil. Claro que sabe! É a Voz do Brasil, e esse recorde consta até no Guinness Book!
O programa foi criado por um amigo de Getulio Vargas para servir como propaganda politica para o presidente. Propositalmente foi escolhido o horário das 19 horas, pois era quando os trabalhadores chegavam ás suas casas depois do trabalho e como quase não havia televisão, no lugar da novela, o povo ouvia as façanhas do governo. O inicio das transmissões aconteceu no dia 22 de Julho de 1935, com o nome de Programa Nacional. A musica utilizada na abertura do programa já mudou varias vezes de ritmo mas continua a mesma: O Guarani, de Carlos Gomes.
Recentemente a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado aprovou mudanças para tornar flexível o horário da apresentação da Voz do Brasil. futuramente nas emissoras que não são públicas, poderemos nos "deliciar" com o programa, das 19 ás 23 horas, conforme a emissora escolher.
Uma boa noticia! Apesar de até gostar do programa, acho uma arbitrariedade que não haja opções de se ouvir rádio no horário estipulado pelo governo das 19 ás 20 horas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

GRATIDÃO

Almoçava o meu frango, o cão e o gato
comiam ao meu redor o resto
dos ossos que saíam do meu prato.
E patrão honesto,
vigiei sem preguiça
a distribuição
com toda justiça
e sem distinção.

Mas uma vez vazio o prato eu,
vendo o gato sair, disse: - Que foi?...
Vai-se embora?.. - Decerto, respondeu,
pois o frango também já não se foi?...

O contrário, porém, com o cão se deu,
que em alegria acesa,
me veio ao colo e minha mão lambeu.
Eu disse: - Bravo! Mostras à nobreza,
q'inda há no mundo alguma coisa sã.
E ele respondeu: - Sim, com certeza,
pois outro frango teremos amanhã.

(Trilussa - tradução de Paulo Duarte).

MULHERES NA IDADE MÉDIA

Gravura medieval – a mulher sendo criada a partir de uma costela de Adão



Na Idade Média havia uma grande preocupação com relação ao prazer, principalmente o prazer da carne, e numa época de forte religiosidade, quem acabava levando a culpa era a mulher. Para se ter uma idéia da baixa valorização do sexo feminino, vale recordar uma frase de Arnaud Laufre: “a alma de uma mulher e a alma de uma porca são quase o mesmo, ou seja, não valem grande coisa”.
Culpadas pelo pecado original, esses maravilhosos seres demoníacos eram a própria personificação do mal. Como a maioria das idéias e dos conceitos era elaborada pelos eclesiásticos, os valores atribuídos ás mulheres oscilavam entre a santidade da Virgem, contrapondo com os pecados da Madalena.
Suscetíveis ás forças malignas eram constantemente citadas nos sermões como sinais de que o demônio vivia presente nos corpos femininos. E com todos esses olhares sobre si, as mulheres tinham que corresponder ao ideal de santidade que lhes eram atribuídos. Viviam em função dos homens, no dia a dia penoso da época. Labutavam nos trabalhos do campo ou nos cuidados com a casa e com os filhos, ou ainda, deixavam-se enclausurar nos refúgios dos conventos a rezar pela absolvição das almas pecadoras.
Poucas mulheres se destacaram nesse grande período conhecido como Idade Média. Algumas rainhas e algumas santas, umas poucas guerreiras. A maioria ficou no anonimato por conta das leis e costumes da época.

terça-feira, 6 de julho de 2010



Navegar é preciso, viver não é preciso - Fernando Pessoa.

Navegar exige precisão. Na vida podemos escolher e tomar o melhor caminho. Sempre poderemos nos arrepender dos nossos erros, aprender a lição e corrigi-los.

O GATO SOCIALISTA

Um gato que bancava o socialista,
com o fim de chegar a deputado,
estava a comer um frango assado
na cozinha de um capitalista.

Outro gato, com lógica sectária
ao primeiro afirmou: - Estou contigo.
Pensa tu que eu também, querido amigo,
pertenço à mesma classe proletária.

E bem sei que se nestas revoadas,
eu quiser esse frango que dispões,
o partirás já, já, em duas porções,
pois não somos, debalde, camaradas.

- Isso não, disse o outro sem pudor,
eu não divido nada, ó meu artista.
Porque, se em jejum sou socialista,
comendo, sempre sou conservador.

(Criação de Trilussa - traduzido por Breno di Grado).

do blog "Ao Correr do Teclado"

MAIS UM POUCO DA HISTÓRIA DA UVA

Segundo M. Pio Correa, em seu” Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas”, a videira é uma trepadeira de caule espesso e resistente, verde quando jovem, tornando-se escuro posteriormente. Folhas grandes, divididas em lobos, com uma leve pilosidade esbranquiçada em sua superfície e flores creme-esverdeadas e pequenas. Os frutos são de formato arredondado ou elipsóide, podendo ser brancos, verdes, amarelos, rosados, vermelhos ou azulados, de acordo com a variedade. A polpa é aquosa e pode envolver até quatro sementes de coloração escura.
Pesquisadores datam o inicio do cultivo da uva, de há 4.000 anos, mas a localização no tempo, das primeiras produções de vinho ainda é incerta. Escavações na Turquia, na Síria, no Líbano e na Jordânia, indicam a presença de uvas no seu estado selvagem, a cerca de 8.000 anos antes de Cristo.
Fruta difícil de transportar e conservar, o homem logo aprendeu a aproveitar os valores e as delícias embriagantes da uva. Por sua alta concentração de açúcares, o processo de fermentação de uvas gera uma bebida de teores alcoólicos variáveis que superou muito o vinho feito de outras frutas.
Acredita-se que por volta do ano 600 aC, o homem aprendeu a podar a videira para obter uma maior carga de frutos. Conta uma lenda que foi um asno e não um homem que descobriu a técnica da poda, ao comer os ramos e as folhas verdes de uma videira. Pode até ser uma anedota, mas poderia ter acontecido realmente.
Acredita-se que as primeiras uvas originaram-se na Ásia, tendo sido introduzidas na Península Itálica e na Europa pelos povos gregos. Foram os romanos, por sua vez, que transformaram a viticultura em um comercio lucrativo, enchendo as paisagens mediterrâneas de videiras. As uvas de então, ainda por vários séculos, destinavam-se basicamente á produção de vinho.
No Brasil, as uvas chegaram com os primeiros colonizadores portugueses. Há indícios de que ela foi introduzida em 1532 por Martin Afonso de Souza, mas o verdadeiro desenvolvimento da viticultura comercial só ocorreu a partir de meados do século dezenove, com os imigrantes portugueses e italianos. Nossos antecedentes europeus trouxeram também na bagagem, o tradicional costume de consumir vinho que rapidamente caiu no gosto do brasileiro.
Há cerca de 10 mil variedades diferentes de uvas adaptadas a vários tipos de solo e clima, o que possibilita o seu cultivo em quase todas as regiões do mundo. Sendo frutas bastante sensíveis ás condições do solo e do clima em que se desenvolvem, as uvas variam muito de acordo com essas condições, apresentando características que as distinguem segundo o sabor, a acidez, a doçura, o formato, a coloração e a resistência da casca, o tamanho, a quantidade de sementes, a forma e o formato dos cachos.
Conforme o Engenheiro Agrônomo Jose Odair Mazia, em Marialva, as variedades mais cultivadas são as chamadas uvas finas de mesa. Os primeiros pés foram plantados no ano de 1962 por produtores de café de origem japonesa, atraídos pelos bons resultados econômicos obtidos por patrícios seus no município paulista de Pilar do Sul.
No inicio, encontraram vários problemas em virtude do desconhecimento do manejo, principalmente com relação ás podas, mas a partir de experiências, conseguiram fazer com que as parreiras tivessem uma boa produção. A partir de 1975, com os cafezais paranaenses dizimados pela grande geada, a uva fina de mesa no município de Marialva, tornou-se uma opção viável para os pequenos produtores.
Hoje Marialva deve uma grande parte do seu desenvolvimento ao cultivo da uva. Novas técnicas e novas variedades vão sendo acrescentadas a cada ano e apesar de algumas dificuldades, principalmente com relação á comercialização, pode-se afirmar com certeza,que foi muito bom para o município a idéia de se produzir uvas finas no interior do Paraná.


este texto é parte do trabalho da disciplina de METEP do curso de História da UEM, apresentado em 2006 por Faustino F. Antunes.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

QUASE DOIS SÉCULOS DE VENEZUELA

A nossa vizinha Venezuela está em festa hoje. comemora 199 anos de independência, quando o grande libertador das Américas Simon Bolivar, em luta armada, livrou o hoje territorio do polemico Hugo Chavez, do dominio espanhol.
Existem algumas teorias da origem do nome Venezuela. Uma delas diz que havia no local um povoado indigena conhecido como Veneciuella, que teria dado nome ao país. A outra, mais aceita diz que o nome foi dado por Americo Vespucio numa expedição em 1499 por encontrar no local, casas construidas sobre suportes de madeira, conhecidas hoje como palafitas. Essas construções sobre a água, fizeram o grande navegador se recordar da sua terra natal, Veneza e ele deu ao lugar o nome de Venezuela.
Antes da chegada dos europeus era habitada pelos indios das etnias Caribes, Aruaques e Cumanagatos. Depois da independencia, seu nome oficial passou a ser República Bolivariana da Venezuela.

JOHN MAYNARDES KEYNES

Hoje o mundo econômico festeja o aniversário do nascimento de John Maynardes Keynes, conhecido como um dos mais importantes economistas de todos os tempos. Keynes defendeu uma politica de estado intervencionista, ou seja, a intervenção do estado na economia utilizando medidas fiscais e monetárias. Ao contrario das teorias do liberalismo econômico, o conhecido "laissez-faire"(deixai fazer)o pensamento keynesiano propõe um governo forte interferindo na economia do país.

HISTÓRIA ORAL - PESQUISA DE CAMPO

O método de se recolher informações por meio de entrevistas com pessoas que vivenciaram algum fato ocorrido, pode-se entender como historia oral. Geralmente os entrevistados são pessoas idosas e é preciso muito tato para se fazer a entrevista. O pesquisador precisa levar em consideração que a memória é seletiva, ou seja, nos lembramos de coisas que tenham nos interessado pessoalmente e mesmo assim a memória pode sofrer alterações com o passar do tempo. Deve-se considerar também que algumas pessoas podem deturpar o que tem a dizer, por motivos pessoais, ora vangloriando ora denegrindo exageradamente o fato relembrado.
A Revista Eletrônica de Enfermagem, no seu site, enfoca que a historia oral tem três funções complementares: registrar relatos, divulgar experiências relevantes e estabelecer vínculos com o imediato, promovendo assim um incentivo á história local e imediata .É uma história vista como alternativa a todas as construções historiográficas baseadas no escrito. Desenvolveu-se á margem da Academia, baseando-se na idéia de que se chega á verdade por meio do testemunho oral. Utilizando-se a história oral, pode-se prestar a diversas abordagens e se mover num terreno interdisciplinar.
O site’” Centro de Memória”” destaca que História Oral é o registro da história da vida de indivíduos que ao focalizar suas memórias pessoais, constroem também uma visão mais concreta da dinâmica do funcionamento das várias etapas da trajetória do grupo social ao qual pertencem. O cientista social não depende somente de textos escritos para estudar o passado.
A história oral apresenta também uma parceria entre o informante e o pesquisador, construída ao longo do trabalho de pesquisa, pelas relações baseadas na confiança mútua, tendo em vista objetivos comuns. Constrói-se assim uma imagem do passado abrangente e dinâmica.
Ao pesquisar os camponeses mexicanos do Estado de Yucatan, Esther Iglesias relata suas experiências com a história oral no mundo rural. Nos mostra que o relato oral não é novidade e tem raízes na própria natureza humana.
Segundo ela, os relatos mesmo nítidos e ordenados, estarão de maneira embaçada na memória do informante e poderão variar de acordo com as condições atuais do mesmo, como a idade, saúde, nível de vida e ainda, o interesse em recordar ou não o fato pesquisado. O relato pode ser um testemunho fiel, desde que seja submetido a outras provas da época.

TIQUINHO DA HISTORIA DA UVA EM MARIALVA

Os primeiros pés de uva fina de mesa foram plantados em Marialva no ano de 1962 por produtores de café de origem japonesa, atraídos pelos bons resultados econômicos obtidos no município paulista de Pilar do Sul por patrícios seus. No inicio encontraram vários problemas em virtude do desconhecimento do manejo, mas a partir de experiências, conseguiram fazer com que as parreiras tivessem uma boa produção. A partir de 1975, com os cafezais paranaenses dizimados pela grande geada, a uva fina de mesa tornou-se uma opção viável para os pequenos produtores.

Parte do trabalho de METEP, do curso de história. A professora era a Solange

QUATRO DE JULHO - INDEPENDENCIA AMERICANA

Ontem, quatro de julho os americanos comemoraram o aniversário da sua independência. O fato, acontecido no século dezoito, difere muito na independência do Brasil e sobre a nossa independência voltaremos a falar, provavelmente em setembro.
Sabemos que os Estados Unidos eram uma colonia inglesa, ou melhor, eram treze colonias inglesas no seculo dezoito. Na época a Inglaterra era comandada pelo rei George III e por conta de uma recente guerra com a França (guerra dos sete anos)precisava recuperar o capital gasto nessa guerra. Que fez o país da Sua Magestade? Aumentou os impostos e taxas cobradas das suas colonias, o que revoltou muito os norte americanos. Numa das revoltas, conhecida como a Festa do Chá, o povo das colonias invadiram os navios inglese ancorados no porto e jogaram toda a carga de chá no mar.
Os americanos do norte começaram a tentar se libertar da dominação inglesa e em 1776 Thomas Jefferson redigiu a Declaração da Independencia dos Estados Unidos da America.
Claro que a poderosa Inglaterra não ia entregar de mão beijada a sua mais rica colonia e até 1783 inglese e americanos se bateram na guerra. Venceram é claro os Estados Unidos, com o apoio da França e da Espanha.
A Constituição dos Estados Unidos de 1787, de caracteristicas iluministas (futuramente também falaremos do iluminismo)garantia a propriedade privada, defendia os direitos individuais do cidadão mantinha a escravidão e optou pelo sistema de Republica Federativa.
Essa luta americana foi um marco na crise do antigo regime, e alguns defendem que teve influencias na Revolução Francesa.
Parabens aos estadunidenses!

sábado, 3 de julho de 2010

UM POUCO MAIS DA HOLANDA

Os Países Baixos(Nederland)são assim chamados porque contam com vinte e sete por cento de sua área e sessenta por cento de sua população situados abaixo do nivel do mar. Esses países são conhecidos no mundo como Holanda (a própria que nos mandou pra casa na copa da Africa do Sul). Por conta dessa geografia, os holandeses tiveram que conquistar as suas terras do mar, por isso a construção dos diques.
País muito diferente esse! Quando ouvimos falar em moinhos de vento, tulipas e tamancos, com certeza vamos ouvir alguma coisa sobre a Holanda! É um país de politica liberal, uma das economias capitalistas mais liberais do mundo!E suas leis costumam ser muito polemicas tambem, principalmente no que diz respeito á homossexualidade, drogas, prostituição, eutanasia e aborto.
Mas da Holanda atual, já sabemos alguma coisa (inclusive dos dois a um na nossa seleção).Vamos agora tentar saber o que eles vieram xeretar aqui no Brasil por volta do seculo XVII.
A primeira expedição holandesa bateu nos nossos costados por volta de 1621, não sendo lá muito bem sucedida. A segunda, em Pernambuco em 1630, teve mais exito.
Mas o que queriam esses camaradas, para vir de tão longe? Facil! queriam adoçar as suas vidas com o nosso açucar, artigo de luxo na Europa naquela epoca!
Grande potencia maritima, haviam desenvolvido a fragata, navio de guerra muito eficiente e não tiveram grandes dificuldades para aqui se estabelecer.
Animados com a nova terra conquistada, mandaram para cá o Conde Mauricio de Nassau, com um séquito de pintores, arquitetos, escritores, naturistas, médicos, astrologos e coisas assim. Naquela época já tinham grandes especialistas, assim como tem hoje grandes jogadores de futebol (nem me lembra do dois a um!).
Mas resumindo a ópera, ficaram alí pela área de Pernambuco até por volta de 1654. Nesse tempo, investiram bastante na cidade de Recife, que estava sendo planejada para ser a primeira capital do Brasil. Aproximaram-se também dos proprietários dos grandes engenhos, no seu interesse pelo açucar.
Taí! Já faz tempo que esse povo de tamancos está nos provocando. Foram mandados embora do Brasil e de revanche, nos mandaram embora da Africa do Sul!
Chupa essa laranja, Dunga!
QUEM NOS DEU UM PÉ NO TRAZEIRO!!

Sempre achei o blog uma maneira muito interessante de comunicação. Pouco antes do jogo Brasil e Holanda, conversando com a Ivani, lembrei-me que os holandeses são pouco conhecidos por nós brasileiros, mas já tiveram uma grande importancia no inicio da nossa colonização. Que país é esse que trava uma luta heróica contra o mar, construindo diques? Além das vacas holandesas que são campeãs na produção de leite e da cidade de Holambra que é campeã na produção de flores, esse povo que usa e abusa dos tamancos é pouco conhecido por nós. Vamos pesquizar um pouco sobre a Holanda atual e a antiga, aquela que deu um trabalho danado para os portugueses ao tentar se apropriar do Brasil, recem conquistado.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

MARIALVA CULTURAL

Começando meu blog marialva cultural nesta data, dia 02 de julho de 2010, dia da derrota do brasil para a holanda.
testando!!!!!!
testando!!!!!!