Faustino Antunes

terça-feira, 21 de dezembro de 2010



MARMITAS

A tal da marmita é um objeto muito interessante. Muito útil, mas eternamente odiada pelos usuarios! É um mal necessário e até hoje nunca encontrei alguém que se orgulhasse de sua marmita. Nunca alguém já chegou para você, todo prosa, apresentando o utensílio:
- Veja que maravilha! Veja os detalhes, as repartições, tem lugar pra salada, pra carne e até pra sobremesa!
Ou então:
- Já tinha visto uma destas? De dois andares? Desenhada em dourado? Não é uma jóia?
Que o diga o Alex! Conta que uma vez, nos tempos brabos de proletário, quando batalhava todos os dias numa revenda de adubos e sementes, ele vinha todo o dia trabalhar de circular. Como ganhava pouco como a maioria dos brasileiros e não podia se dar ao luxo de almoçar em restaurantes, ele se obrigava a trazer de casa a abençoada marmita. Morria de vergonha dela e sempre que podia deixava a danada meio escondida, o mais longe possível de onde ele estava, como quem não tinha nada a ver com aquilo. Só recolhia apressadamente no ultimo minuto, quando ia descer do ônibus. Mas um dia, por capricho não se sabe de quais forças, ele colocou o utensílio numa saliência do busão e se afastou como costumeiramente para disfarçar. Não é que num dos solavancos que o ônibus deu, a traia soltou a tampa, que veio rolando até o meio do corredor. Muito solícita uma das passageiras, senhora já de certa idade, recolheu o apetrecho e veio entregar nas mãos do lívido Alex.
- Toma meu filho. Isto caiu da sua marmita!


NA ROÇA

Juventino levantava cedo, com o sol ainda ensaiando os seus primeiros raios lá pras bandas do ribeirão. Acordava a patroa para fazer o café, abastecer as marmitas e recolher os ovos das galinhas, enquanto ele tratava dos porcos. Depois iam para a roça, com as enxadas nas costas, onde davam duro na capina, limpando os pés de milho do mato, durante todo o dia. Era trabalho puxado, parando somente duas vezes, uma para o almoço e outra á tarde para um café geladinho com polenta frita. A marmita do almoço era arroz com feijão, temperado com muito alho e cebolinha de cheiro. Quando tinha porco na lata ela vinha toda cheirosa, enfeitada com um pedacinho de carne, e quando não, era o infalível ovo frito mesmo. Um dia, Juventino ao abrir o utensílio, se assustou com o tamanho do ovo:
- Ô Marvina, a marmita hoje veio com duas tampa!

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