Faustino Antunes

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

UMA PORTUGUESA DO BARULHO




MARIA JOSÉ FERREIRA


Maria José Ferreira nasceu no dia 20 de maio de 1920, numa pequena localidade chamada Vale de Pombal, em Portugal. Viveu sua infância ali pelos arredores, aprendendo com sua mãe, a ser uma dona de casa. Ajudava também a cuidar das ovelhas da família e um dos serviços do qual ela jamais se esqueceria era a de juntar o esterco que os animais deixavam cair pelos caminhos, que iriam servir de adubo nas quintas. Como dizia, seu serviço era “apanhar cagalhões” para adubar a terra! Sua juventude seguiu sem muitas novidades, a não ser trabalhar ás vezes como apanhadeira de azeitonas para os vizinhos, e algumas peregrinações á Fátima, á pé porque era perto. Como o lugar onde nascera era conhecido como “tapada”, era conhecida pelas amigas como “Maria da Tapada”.
Mas a boa vida da Maria da Tapada iria dar uma grande guinada! Foi pedida em casamento por um gajo, nascido e criado ali por perto, chamado Antonio Antunes, que havia emigrado para o Brasil, onde possuía um pequeno sítio na cidade de Marialva, no Norte Novo do Paraná.
No dia 4 de abril de 1953, casadinha de novo e ao lado do marido, embarcou para o Brasil no navio de bandeira portuguesa chamado Vera Cruz. Fizeram uma pequena parada em 06 de abril na Ilha da Madeira e no dia treze de abril, bateram com os costados no Rio de Janeiro. No outro dia já estavam no porto de Santos onde desembarcaram.
Chegaram a Marialva no dia 5 de maio de 1953 e a portuguesa toda perdida em terras tupiniquins, encontrou á sua espera um “confortável” ranchinho de palmitos, e muito trabalho. O córrego ficava a mais de duzentos metros de distancia e com a trouxa na cabeça lá ia ela com as roupas para serem lavadas. O mato da propriedade havia sido tombado á pouco tempo e conforto não havia nenhum, mas em compensação as saudades da sua terra e da família eram muitas. Imaginem a jovem portuguezita separada de todos os familiares, vivendo numa terra distante da sua, o que não deve ter passado!
Mas sobreviveu! E criou cinco filhos, educando-os como pode. Com ela, aprenderam a viver e principalmente a rezar e a temer o demônio. Tinha um medo danado de cobras e um pavor enorme de temporais.
Trabalhava como homem na roça. Na cozinha era uma grande cozinheira e seu bolinho frito de chuchu era de dar água na boca. Roupas para a família eram todas costuradas na sua velha e eficiente maquina de costura. Cuidava das criações e ainda conseguia uns trocados vendendo ovos de galinhas caipiras.
Uma única vez voltou á sua terra natal. Embarcou com a caçula em Guarulhos e partiu para Portugal com a intenção de ficar dois meses. Voltou vinte dias depois justificando que a sua vida toda estava aqui no Brasil.
Em julho de 2007 transformou-se em lembrança querida. Dias antes de partir, divertia as enfermeiras contando piadas e dando a receita para se viver bem, com poucas rugas: - Bebam vinho! Sábia, alegre e ás vezes meio besteirenta, essa portuguesa valente deixou o mundo num dia escuro e chuvoso. Com certeza, sua ultima viagem foi bem mais tranqüila que sua agitada vida.
Vá com Deus, Vó Portuguesa! Literalmente!

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